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Camilas

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Ela costumava vestir suéter preto, marrom e cor de vinho.

E por isso mesmo, não parecia ter vida. 

Não viam vida nela. 

Ela vestia suéter preto, marrom e cor de vinho, e andava de cabeça baixa.

E por isso, alguém ria dela. E por isso a abominavam.

Ela vestia suéter preto, marrom e cor de vinho, andava de cabeça baixa, e não sorria. 

E por isso apontavam pra ela, e por isso riam dela. 

Ela vestia suéter preto, marrom e cor de vinho, andava de cabeça baixa, não sorria e não tinha amigos. 

E por isso era sozinha. E por isso não havia quem a defendesse.

Ela não tinha voz. 

Zombavam-na.

Inferiorizavam-na.

Camila, aquela menina indefesa, cujo aquele que poderia orgulhar-se dela, desmoralizava-a. 

Seu namorado desmoralizava-a.

 Atravessando-lhe uma faca em sua alma. 

Camila, que a cada passo dado a derrubavam-na. Suas coisas caiam. Sua vida caia.

Camila, uma moça bonita, escondida nos encalços e timidez que lhes proibiam de extravasar e viver sob a ótica da beleza, sob aquele velho padrão de beleza de que tanto ouvira falar. 

Camila, aquela moça que levou em toda a sua vida  a missão de solucionar os problemas que as outras pessoas lhes colocavam. 

A moça tão apagada e ao mesmo tempo tão... Tão... Tão vista. Tão julgada. Tão ridicularizada.

Ela chorava. Tinha pena de si. Tinha tanta pena, que criara ódio de si mesma. 

Criara tanto ódio. Por que tinha de ser assim? Por que tinha de ser tão ridícula? Por que tinha de ser tão apagada? 

Encontrara uma solução. A solução fora contada em todos os jornais da cidade.

Camila fora vista por todos, e por aquele a quem ela chamava de amor.

Foi vista com seus punhos cortados, clamando amor, valor e piedade.

Ali estavam seus punhos cortados. Camila morreu para encontrar uma vida. 

Por que ela fez isso? As pessoas perguntavam.

Não tem um por quê. Não tem por quem.

Talvez esse tenha sido seu destino.

Talvez tenha sido preciso.

Não importa por quê. As pessoas nunca se importaram. Nem nunca se importarão.

As pessoas perguntavam, porque ali, elas eram curiosas. Logo mais esqueceriam. Logo mais aparecerá outra Camila, cujo namorado lhe ridicularizará, cujos amigos ela não possuirá, cujas vestimentas não serão bem vistas, cuja consciência lhe penetrará de tal forma, a também se sentir ridícula. Afinal, as pessoas nunca têm culpa. As Camilas têm culpa.

As Camilas são feias. As Camilas são Infelizes. 

Quem nunca conheceu uma Camila? Quem nunca humilhou, ou ausentara-se das humilhações impostas a uma Camila?

A verdade, é que as Camilas nunca devem deixar de existir, por causa do seu vestido, por causa da sua beleza que não condiz com outras belezas, por causa do comportamento não aceito pelos ditos superiores.

A verdade é que o mundo deverá ser mais lindo tendo dentro dele centenas de milhares de Camilas. Camilas que não seguem padrões, Camilas que se defendem sozinhas, Camilas que conversam consigo mesmas, Camilas que conseguem ser fortes até diante de um amor que lhe sacaneia. 

Viva a todas as Camilas.

Viva a você que se viu dentro de uma Camila. 

 

(Inspirado na música Camila, Camila- Nenhum de nós).

 

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Mariane Rodrigues ESCRITO POR Mariane Rodrigues Escritora
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Membro desde Julho de 2010

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