Tema Acessibilidade

Sociedade Fútil

• Atualizado

Na vida, nada é para sempre... Por isso eu te peço que se desapegue de toda futilidade. Sei que é difícil e ainda hoje estou eu incansavelmente nesta labuta: aprendendo cotidianamente que na vida há prazeres e há felicidade. Não falo de uma felicidade plena, falo daqueles momentos simples, felizes e saudáveis. Ainda estou eu cá em minha vidinha labutando incansavelmente em busca de uma aceitação mais verdadeira perante a minha própria existência. Acredite, é difícil. É muito difícil viver diante deste mundo narcisista e de aparência, tentando com seus pequenos defeitos, aceitar-se de alguma forma. Você que é gordo sabe o que eu digo. Você que é magro também sabe, e você que não tem dinheiro para comprar um tablet, estamos juntos. 

É espantoso o número de pessoas que se iludem com o novo lançamento de um celular, ou de um iPhone, ou daquela roupa que atualmente está na moda. O esforço que elas fazem para comprar todos estes materiais que com o passar do tempo caem e precisam comprar os novos que aparecem. Conheço um infinito número de pessoas que gastam todo o salário no fim do mês só em roupas e calçados. Como conheço também pessoas que se aproveitam do potencial financeiro de outro para usufruírem de uma vida rica e luxuosa. Pessoas assim se sentem felizes, mas essa é uma felicidade passageira. Penso como elas sentem o mundo em suas mãos quando podem aproveitar um pouco de um luxo que não a elas pertence, aquele prazer curto que então é substituído por um vazio quando retornam a sua realidade e percebem que suas vidas não é exatamente aquilo.

Alegra-me o fato de presenciar e saber que existem casais que se deliciam um ao outro, num campo, plantando uma árvore, curtindo uma cachoeira, ao invés de se presentearem com as luxúrias de um shopping. Você agora, neste momento, pode está se dizendo que o que me traz felicidade não é o que traz a felicidade do outro. Pois eu te pergunto: quem não quer ser feliz com tão pouco? Quem não quer aprender a dar valor as pequenas coisas? Se você aprender a dar valor e for feliz pelo mínimo que o tempo te oferece, você não carecerá de procurar pelas magnitudes e maravilhas que constantemente estão abaixo do seu nariz, mas que de repente te somem. O que eu te peço no momento é: não sinta, jamais falta do que não te é necessário.

Se este celular que lançou agora a pouco não te é necessário, para que comprá-lo? No entanto, vê como você o comprou e ele era de primeiríssima qualidade, que toca música, que tira foto, que faz isso, que faz aquilo, que tem tantas utilidades que você esquece-se até da sua principal importância, comunicar-se. Na verdade, você faz tudo com ele, menos comunicar-se quando seus pais te ligam para saber onde você está, por exemplo.

 Lembro-me muito bem do dia em que você comprou um relógio caríssimo, que não lhe cabia o dinheiro que entra em teu bolso, só porque ele era revestido de ouro e belíssimo. Esqueceu-se você que possuía aquele mesmo celular que falei anteriormente e que nele havia uma coisa chamada, hora? E esquece-se você que ao perguntar-lhe a hora meio que automaticamente você olha para o celular e não para os braços? Acho que esse seu relógio não tem tanta utilidade assim. Porém eu também acho que você comprou não pensando em sua utilidade, mas por puro capricho. E quantas vezes você não descartou aquelas calças que ainda cabia-lhe ao corpo pelo simples fato da calça não condizer com a moda? Quantas roupas você usou somente uma vez e achou que não mais te servia?

A futilidade está em todo o lugar. Em cada abraço falso que damos até as amizades que fazemos por interesse. A futilidade está a cada vez que saímos de nossas casas para irmos a uma academia em busca do corpo que é imposto pela mídia e que pela nossa alienação nos fez acreditar que fosse o corpo perfeito ao invés de irmos à procura de nossa saúde. A cada vez que saímos de nossas casas para tirar nossos cabelos encaracolados e a cada vez que deixamos de conhecer alguém só porque esse alguém não tem a beleza que se pede a Deus. A futilidade está a cada vez que atormentamos nossos pais para comprar o carro de nossos sonhos. No fundo sabemos que fazemos isso para sermos aceitos em um grupo que nos descartaria se não tivéssemos o carro dos sonhos, nem o corpo perfeito. No fundo sabemos que a felicidade não está em alcançar essas coisas. No fundo sabemos que seríamos bem mais felizes se fôssemos aceitos pelos outros e mais ainda, se fôssemos aceitos por nós mesmos sem termos carro algum, ou se não tivéssemos o corpo perfeito.

A futilidade está em valorizar coisas, descartar pessoas em valorizar aparência, descartar essência e lamenta-me muito a forma como pessoas se subordinam a uma ditadura imposta para favorecimento de uma classe burguesa. Já comprei um tênis nike achando que seria de bom agrado tê-lo em meus pés, logo após percebi que eu só estava alimentando um sistema explorador assim como a própria empresa. Já parei para pensar em como meus cabelos são duros e rebeldes demais para deixá-los assim neste mundinho em que ter cabelos lisos e loiros é a bola da vez, mas percebi que não preciso me sentir inferior por causa do meu cabelo duro, já que ele pode ser belo, assim como o cabelo liso é. Confesso que já tomei remédios para tentar igualar-me ao peso de muitos que me sacaneavam por minha magreza. Mas hoje eu percebo que pessoas que me aceitam assim são as que eu preciso tê-las por perto. Eu jamais vou dizer que não utilizo desta futilidade. Afinal, cada vez mais preciso saciar-me dela para viver socialmente. Mas, dia a dia tento consumir o mínimo possível. Tento desfazer-me o máximo possível das coisas, e aderir à minha vida mais pessoas. E quer saber? Confesso que o único calçado que possuo é um par de tênis , uma havaiana e um calçado que utilizo a passeio. Ainda utilizo calças compradas há três anos. A única maquiagem que possuo é um batom e não, não faço questão de comprar um tablet. 

Copyright © 2012. Todos os direitos reservados ao autor. Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.
0
4 mil visualizações •
Atualizado em
Denuncie conteúdo abusivo
Mariane Rodrigues ESCRITO POR Mariane Rodrigues Escritora
Maceió - AL

Membro desde Julho de 2010

Comentários