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As lavadeiras

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Eu estava no terreiro brincando com Valente. Vovó apareceu no batente da porta e me chamou. Fui ao encontro dela e Valente me acompanhou. Vovó pôs a mão dentro do bolso direito do vestido, tirou um tostão e me pediu para comprar sabão branco sabão da terra. Eu fiquei curioso para saber qual era a diferença entre um e outro, mas quando retornei da casa de dona Firmina, entreguei os sabões, ganhei o troco; entretive-me com Valente, deixando a aquela curiosidade de lado.

Mas tarde, alguém apareceu na porta da frente chamando por vovó. Ela deu a mão para mim, pedindo que eu observasse quem era. Depois de ter prestado atenção, de lá mesmo disse que era Marli, a lavadeira. Vovó pediu que ela entrasse, indo para a cozinha. Eu a acompanhei. As mãos dela eram engiadas e a maioria das unhas tinha caído. Conversaram bastante tempo. Depois foi embora. Cheguei para vovó e perguntei-lhe:

— Vó, por que as mãos e as unhas de Marli são daquele jeito. Tive pena dela!

— Porque ela lava pra ganhar.

— Não entendi direito isso.

— É por causa daqueles sabão que dona Firmina faz. Marli ganha por lavagem de roupa. Como ela lava todo dia, aí prejudica.

— Vó, o que será que tem nesses sabões?

— Ah, meu filho, não sei! Só você indo perguntar a dona Firmina. Só ela pode responder isso a você porque ela é quem faz os sabão, lá na casa dela.

Dona Firmina morava na mesma rua que a gente. Pensei em ir lá, mas desisti porque ela vivia com a cara amarrada. Então, esperei que vovó pedisse que eu fosse comprar sabão novamente. Depois de uma semana, eu fui comprar. Da porta, disse:

— Dona Firmina, ô dona Firmina! Quero comprar sabão!

— Entre meu filho, pode entrar. Tô aqui na cozinha ocupada.

Entrei, fui aonde ela estava, comprei um tostão de sabão. Ela embrulhou no papel e me entregou. Olhei para ela e disse:

— Dona Firmina, como é que se faz Sabão?

Ela me olhou por alguns instantes, deu-me as costas e pediu que eu me aproximasse. Próximo aos latões, ela disse:

— Para fazer o sabão branco, primeiro coloca sebo de boi e água dentro de latões de querosene de vinte litros. Quando o sebo derreter, é só colocar soda caustica e esperar por duas horas. Quando tiver pronto, espera esfriar, pega o arame e faz as barras.

Depois me mostrou como era feito o sabão da terra. Para fazê-lo, tinha que colocar pouca soda cáustica, acrescentar cinza e cal. A cinza era para dar um colorido diferente as barras de sabão e a cal para limpar as borras da cinza quando estava fervendo.

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Ron Perlim ESCRITO POR Ron Perlim Escritor
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