Ela IV
Eu estava lá
naquele bar
contigo
reparando em teus amigos
já não mais em si
vi você beber
até não aguentar
o uísque era água
matando tua sede
de sei lá o quê
uma sede que meus beijos
não matavam
o ruim disso
é que eu também
tinha sede
mas passava
quando eu te bebia.
Eu te observava
com aquela calmaria
após cada gole
de si mesma
ainda era a mais bela
que eu via
e pensava: como pode ser assim?
recitava meus poemas favoritos
com a voz embargada
palavras atropeladas
mas linda
ela era um poema
a ser escrito
e vivo.
A cor, o cheiro, o olhar...
o mais distante
e me perguntava se eu
realmente não gostaria
de um pouco da sua bebida
e eu recusava
querendo observá-la sóbria
talvez
fosse a última vez
que a visse assim
Eu só queria vê-la
e senti-la perto
antes de beber com gosto
como se bebe aquele resto
de bebida no co(r)po
aquele que parece ser
o melhor, o mais querido
o que dá mais
sede
e não dá mais
para beber.
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