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Carta para minha sogra

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     Helena, do grego tocha, luz.

 

 

 

   A primeira vez em que a vi, foi em um dos dias mais tristes de sua vida. Eu estava na calçada,parada em frente a casa, mas dava para vê-la na janela do primeiro andar, não tive coragem de subir...( a senhora estava chorando e o cabelo   trançado descia até a altura da cintura), Cristina lhe amparava . Não vou tecer os detalhes do restante desse dia, pois nos causariam imenso pesar, teceríamos conjecturas... e nada poderia nos devolver o que perdemos. Prefiro adiantar os ponteiros do relógio e reencontrá-la no dia do meu casamento , quando fui abraçada, e recebida carinhosamente em sua casa._Bem vinda minha filha! Disse a senhora, e me ofertou o mundo das mulheres, eu, (como é inevitável),a partir daquela noite lhe atribuiria as minhas próprias nuances.

   O pouco que conheço de seus feitos, são contados pelo meu esposo. Ele contou da música, (a musa da canção tem o seu nome), que o pai dele cantarolava para a senhora; do trabalho incansável na oficina; de sua equidade no pagamento das horas trabalhadas;dos passeios dominicais... de seu jeito de desatar em risos diante da façanha dos filhos; dos lugares onde moraram... ainda hoje enquanto dirige, ele vai me apontando entusiasmado as ruas da Pajuçara.

  Quando os seus netos chegaram, foi amor incondicional e à primeira vista, e os sentimentos maternais tão apurados triplicaram... A passagem dos anos lhe converteu no xodó de todos eles. E recebeu o título (conquistado com mérito),de melhor avó do mundo.

   Mulher admirável! De uma era própria.

   Uma vez a senhora me fez chorar,(não se preocupe não foi culpa sua) foi na Santa    Casa, quando fez a cirurgia do coração, eu entrei no quarto , quase não a reconheci entre os tubos e tantos aparelhos, a senhora parecia menor ,afundada naquele travesseiro branco... (tão frágil e tão debilitada) esqueceu de si, abnegou-se... e  arfando, com um esforço do qual não faço  a menor ideia,me perguntou pelas crianças...fiquei arrasada com a sensação, ainda que momentânea de perdê-la.

   Após a breve visita, retornamos juntos para casa caminhando cabisbaixos pela calçada do estacionamento,eu, Sinval, Gorete, Samaritana  e Liege; Naquele dia as nuvens esqueceram a sua natureza leve,  e pesaram sobre nossas cabeças...

   Graças a Deus! A senhora recuperou-se, tornou-se mais forte, fortaleza.

   Certa vez, com ar tristonho  me fez uma confissão, e eu guardo em segredo comigo, (agora me parece muito mais um conselho), não se preocupe, nem se torture com o passado, isto é pertinente a todas as mães.

   Perdi a conta das festas... dos sermões, das reclamações tão peculiares, hoje até rio delas, e isso é bom.

   Tentei contar os beijos os abraços, a ternura familiar (mesmo fingindo ser tão durona), entretanto, são como as estrelas, quase infinitas e a gente se perde na quantidade exata.

   Enfim, eu quero dizer que todos nós aprendemos a lhe amar, cada um a seu modo , em proporções distintas e diversas, e a senhora sabe o quanto a diversidade é  ampla nessa família tão numerosa.

 

Feliz aniversário! Nossa eterna matrona italiana.

 

 

Cleide Vanderley

 

 

 

 

PS. Desculpe o atraso, estava me inspirando.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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Cleide Vanderley ESCRITO POR Cleide Vanderley Escritora
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