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A RELAÇÃO ENTRE OS CONCEITOS DE SISTEMA DE DOMINAÇÃO/EXPLORAÇÃO DE GÊNERO, PATRIARCALISMO E DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO

• Atualizado

Marcus Swell Brandão Menezes

 

 

RESUMO

 

Este artigo tem por proposta tecer algumas considerações sobre a relação entre os conceitos de gênero, patriarcalismo e divisão sexual do trabalho e a violência perpetrada contra a mulher ao longo dos tempos.

 

Palavras-chaves: gênero, patriarcalismo, divisão sexual do trabalho e violência contra a mulher.

 

ABSTRACT

 

This articleproposessome considerations aboutthe relationshipbetween the concepts ofgender,patriarchy andthe sexual divisionof labor andviolenceagainst womenthroughout the ages.

 

Keywords: gender,patriarchy,sexual division of laborand violenceagainst women.

 



1. INTRODUÇÃO

 

As violências contra a mulher são consideradas um fenômeno que ocorre em âmbito mundial e entendidas pela Organização Mundial de Saúde como um problema de saúde publica. Os efeitos da violência de gênero atingem diretamente a autoestima, a segurança e o bem-estar das pessoas atingidas.

 

Os primeiros estudos sobre violência contra as mulheres divulgaram que essa situação acontecia em todas as classes sociais. Saffioti (1999), uma autora feminista, referiu o “nó gordio” constituído pelos sistemas de dominação e exploração pautados em gênero, classe social e etnia. Dessa maneira, as mulheres negras e pobres estão em situação de maior vulnerabilidade. Pesquisas mostram que homens desempregados são mais violentos com a família. Esses dados indicam que a maior vulnerabilidade social está diretamente relacionada ao aumento da prevalência de violência física e psicológica (Krug, 2000).

 

Embora haja muitas denominações para designar a violência perpetrada por homens contra as mulheres, incluindo os termos violência doméstica, violência intrafamiliar e violência sexual, nos alinhamos aos que usam o conceito de violência de gênero. Considera-se violência de gênero qualquer ato de violência praticado contra a mulher que resulte, ou possa resultar, em dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico, assim como a ameaça de tais atos ou coerção a privação da liberdade seja na vida publica ou no âmbito doméstico. A violência no âmbito conjugal expressa o conflito de interesses entre duas partes que participam da relação de convivência. É importante entender a ambigüidade e as tensões estabelecidas nas relações de gênero e os padrões que orientam a conduta como um movimento, uma passagem que implica contradições e diversidades (Gregori, 1993).

 

2. DESENVOVIMENTO

 

Gênero é uma categoria constituinte das relações sociais entre homens e mulheres e tem sido utilizada para explicar a construção e organização social da diferença entre os sexos. O conceito de gênero, no âmbito dos estudos da mulher, questionou as diferenças entre os sexos atribuídas à biologia para enfatizar a importância social e cultural desse conceito. Gênero é um sistema simbólico de significados, que configura e reflete posições hierárquicas e antagônicas entre homens e mulheres (Saffioti & Almeida, 1995; Giffin,1994; 2002; Scott, 1990).

 

A violência de gênero é um fenômeno complexo, com raízes profundas nas relações de poder baseadas no gênero e na sexualidade. Estudos indicam que as relações hierárquicas de gênero perpetuadas através da socialização e as desigualdades socioeconômicas são determinantes da violência contra a mulher (Heise etal.,1994). A maioria das situações de violência masculina é perpetrada pelos parceiros íntimos das mulheres, na maioria das vezes, de maneira crônica (Saffioti,1999; Grossi e Werba, 2002).

 

A relação entre os gêneros é hierarquizada e entendida como um princípio que classifica as pessoas e serve como instrumento ideológico de dominação. Para entender a violência de gênero a partir do ponto de vista dos homens, buscamos inspiração nas idéias que embasam a construção social da masculinidade. As identidades de gênero remetem a uma reflexão mais aprofundada acerca dos valores que fazem parte da identidade masculina, assim como a expressão em seus comportamentos.

 

Para os autores (Badinter, 1993; Nolasco 1995; Almeida 1996) a crise da masculinidade pode ser compreendida como um mal-estar, um conflito de identidade ou uma tentativa em manter um modelo de gênero hegemônico ao mesmo tempo pluralista, às vezes baseado em modelos tradicionais, às vezes em modelos modernos de masculinidade, porém incapaz de sustentar a hegemonia referente à subjetividade (Rolnik e Guattari, 1996).

 

Os estudos históricos e antropológicos indicam a dominação da mulher pelo homem ao longo dos séculos. Para cimentar esse processo, utiliza-se a ideologia patriarcal e o machismo. Azevedo (1985) define machismo como um sistema de idéias e valores não igualitário entre homens e mulheres ou a dominação do homem sobre a mulher. O machismo enquanto ideologia é constituinte de um sistema de crenças e valores elaborados pelo homem com a finalidade de garantir a supremacia através de dois artifícios básicos: afirmação da superioridade masculina e reforço da inferioridade atribuída à mulher. O machismo pode ser reconhecido no imaginário ou nas representações sociais e socioculturais sendo considerado o resultado de um processo longo de construção do que é ser uma mulher e do que é ser um homem.

 

Azevedo (1985) considera que o discurso machista, tanto erudito quanto popular, está a serviço da reafirmação da superioridade masculina e da inferioridade feminina, como forma legítima de perpetuar a dominação da mulher. Já o machismo enquanto ideologia é uma forma sutil de violência simbólica, e procura convencer o dominado da inexistência de opressão ou subordinação, considerando-a, até mesmo, benéfica e natural. O machismo não se restringe aos homens, a maioria das mulheres sofre uma socialização que as preparou para aceitar a dominação masculina e, portanto, para serem machistas. A solidariedade existente entre homens, visando à preservação de seus privilégios não corresponde à solidariedade feminina na reivindicação de igualdade de direitos.

 

A sociedade patriarcal provê experiências diferentes para meninos e meninas; da menina é esperado comportamento meigo, gentil, carinhoso, passivo. São consideradas sensíveis, ou fracas, como se sempre estivessem necessitando de proteção. Dos meninos é esperado que sejam rudes, autoritários, “durões”, sujos, que tenham força e não demonstrem fraqueza. Nas sociedades patriarcais o prestígio das mulheres provém dos homens. Esses são os detentores do poder, tomam as decisões e são considerados responsáveis pela proteção da família. Às mulheres cabe facilitar a carreira profissional do marido e tornar a vida confortável, em troca, obtém sustento e proteção. O processo de fabricação de “machos e fêmeas” é uma dinâmica psicossocial que se desenvolve de forma intencional através da escola e da família, da igreja e outros grupos (Strey, 2004).

 

 

3. CONCLUSÃO

 

 

E para concluir, atualmente os estudos sobre a família estão entre os mais cotados entre as ciências sociais e humanas e são inúmeras as formas de compreendermos a família, seja como um grupo econômico ou por seus relacionamentos, para citar alguns. 

 

Um meio não tão evidente de compreendermos a construção social da família é sob o ponto de vista de seu poder político: o patriarcado.

 

Saffioti define o patriarcado como “o regime da dominação-exploração das mulheres pelos homens” (2004, p. 44). Seus principais elementos são: o controle da fidelidade feminina; a conservação da ordem hierárquica com a autoridade do masculino sobre o feminino, bem como dos mais velhos sobre os mais novos; e a manutenção dos papéis sociais: ao homem fica incumbida a responsabilidade da provisão material e a mulher pelos afetos e cuidados no lar (SAFFIOTI, 2004; SCOTT, 1995; TERUYA, 2000).

 

A evidência de muitos materiais arqueológicos, como esculturas ou pinturas rupestres, provam seguramente que, em tempos remotos, às mulheres eram vistas como seres mágicos e divinos, principalmente pela crença destes antigos homens na sua não participação na atividade de reprodução. Como os bebês precisavam ser amamentados, as mulheres precisavam sempre os carregar junto de si (SAFFIOTI, 2004).

 

Desta forma, não seria possível para estas caçarem os alimentos para o grupo, pois qualquer choro da criança espantaria as presas. Assim, as mulheres ficavam com as atividades de coleta, como plantas e frutos. Se por um lado isto as transformou em maiores provedoras, pois a caça realizada pelos homens poderia render alimento por vários dias, por outro lado, daria a estes últimos o tempo disponível para o ócio e, consequentemente, à criatividade (SAFFIOTI, 2004).

 

Com o advento da descoberta da participação masculina na reprodução e posteriormente a criação da linguagem, num lento processo, que levou aproximadamente dois milênios e meio, os homens desenvolveram os meios necessários para destronar suas parceiras e domina-lás. “Logo, não se vivem sobrevivências de um patriarcado remoto; ao contrário, o patriarcado é muito jovem e pujante, tendo sucedido às sociedades igualitárias” (SAFFIOTI, 2004, p. 59-60).

 

 

4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

 

  • Azevedo, M. A. Mulheres espancadas: a violência denunciada. São Paulo: Cortez, 1985.

  • Almeida, M. I. M. Masculino/Feminino: tensão insolúvel. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.

  • Badinter, E. XY: sobre a identidade masculina. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1993.

  • Giffin, K. Pobreza, desigualdade e equidade em saúde: considerações a partir de uma perspectiva de gênero. Cad. Saúde Pública, 18, supl. 1, 2002.

  • ____________. Violência de gênero, sexualidade e saúde. Cad. Saúde Pública, 10, 146-155, 1994.

  • Gregori, M. F. Cenas e queixas: um estudo sobre mulheres, relações violentas e práticas femininas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1993.

  • Grossi, P., & Werba, G. Violências e gênero – coisas que a gente não gostaria de saber. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002.

  • Heise, K. Violência de gênero, sexualidade e saúde. Cad. Saúde Pública, 10, supl. 1, 146-155, 1994.

  • Krug, E. Informe mundial sobre la violencia y la salud. Washington: OPAS/OMS, 2003.

  • Nolasco, S. O mito da masculinidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1995.

  • Rolnik, S., & Guattari, F. Micropolítica: Cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes, 1996.

  • Saffioti, H., & Almeida, S. S. Brasil: violência, poder e impunidade.In Violência de gênero – poder e impotência. Rio de Janeiro: Revinter, (1995).

  • Saffiotti, H. Gênero e patriarcado. PUC-SP. [mimeo], 1999.

  • ____________. O poder do macho. São Paulo: Moderna, 1987.

  • ____________. Conceituando gênero. In Saffioti, H., & Muñoz-Vargas, N. Mulher brasileira é assim. UNICEF; Rosa dos Tempos. pp. 271-283, 1994.

  • Scott J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação e Realidade, Porto Alegre, 16, 2, 5-22, 1990.

  • Strey, M. N. Gênero e cultura. Questões contemporâneas, (1ª ed.). Porto Alegre: Edipucrs, 2004.

 



 

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Marcus Swell Brandão Menezes ESCRITO POR Marcus Swell Brandão Menezes Escritor
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