Alguns poemas do livro PALAVRÓRIO - Tchello d'Barros
Alguns poemas do livro PALAVRÓRIO
(1996 - Ed. do autor - SC)
Tchello d'Barros
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POR AMAR UM AMOR-MOR
Mais amor e amar a musa
Ardor de adorar a diva
Num arder louvar a deusa
Um cio de concupiscência
Licenciosa orgia
E lúbrica simbiose
Aceso amor de libido
Casta paixão na lascívia
E desejos em volúpia
Afrodite ou deusa Vênus
Adeus aos erros de Eros
E com camisa-de-vênus
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DE PERFUMES E PERFÍDIAS
Olores de sândalo
Perfumes na brisa
Marulho de ondas
Pegadas na praia
No calor da tarde
Ao sol tropical
Dilatam pupilas
Acendem desejos
Um úmido vento
Vem todo aromas
Num cheiro de flores
De pétalas doces
Na tarde que arde
A sutil fragrância
Hoje denuncia
Um rosto ausente
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SUBLIME SEMBLANTE
Nesse sublime semblante
Um breve tremor no corpo
Acende a luz das fagulhas
Que ardem por toda a pele
Íris além do arco-íris
Encontrar um rosto amado
Nessas fugidias nuvens
Na tarde um poente de ouro
E nos olhos do semblante
Duas mandalas fugazes
Duas gotas do oceano
Ilhas de uma saudade
Um corpo quente e lânguido
Em esguia silhueta
Tépidas dunas sem fim
Romã de raros aromas
E ferve um rio caudaloso
E queima o leito nas veias
Águas que ardem por dentro
Nas torrentes do desejo
No encontro da pele afago
Toque na pele e carícia
Onde arde a chama o afeto
Semblante em doce ternura
As nuvens levam um rosto
As horas levam um nome
Mas não levam essas letras
Nem essa pedra no peito
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NA PONTA DO LÁPIS
Papel virginal
De cálido rosto
E nívea brancura
Recebe a visita
De um tímido lápis
A mina desliza
Percorre a folha
Nos traços que nascem
E fixa o grafite
Num gesto infinito
Nas linhas que surgem
Dos riscos e letras
No branco papel
Emergem desenhos
E versos diversos
Os traços do lápis
Percorrem a folha
Não mudam a vida
Não curam o mundo
Nem salvam o homem
Mas este grafite
Com poucos rabiscos
Desenha um corpo
Revela um rosto
E escreve teu nome
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PERGUNTAS PRA LUA
A lua de prata
Rainha das nuvens
Refulge no alto
Um disco que lembra
Olhar de pantera
No meio da noite
Perguntam pra lua
_Realizar sonhos?
Ela é só silêncio
A não dizer nada
Ainda mais silente
Ouve outra pergunta
_Aonde o amor?
Também dessa vez
Nenhuma resposta
O halo lunar
Ouve outra vez
_Existe destino?
Calada na noite
Nenhuma palavra
Silêncio de prata
Que vive no céu
Envia um sinal
Foi só uma nuvem
Ou a lua piscou?
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Tudo no lugar
Lascívia no tato
Desejo no olfato
Libido no olhar
Sem nada alterar
Encontro de olhos
No suor dos corpos
Ardor e adorar
Nada vai mudar
Os que se atraem
Nem os que traem
No ato de amar
Nem eliminar
Cupidez no cio
No calor ou frio
Amar e sonhar
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VISITANTE INESPERADA
Num sonho ela aparece
Meia-noite e meia-lua
Uma imagem que oferece
Um corpo de pele nua
Mostra agora sua face
Rosto de musa calada
Uns olhos que dizem tudo
Sem dizer uma palavra
Essa diva de outro mundo
Bela dona que me encanta
Enche de luz o meu ser
Ao dar-me um beijo de santa
Um silêncio mais profundo
Já em plena alvorada
A mulher de pele despida
Me chama ao mundo dos vivos
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O PÓ DO POEMA
O pó do poema
É barros e lama
Havendo um tema
Não tema nem trema
À venda um anátema
Nem treme a trama
Valendo uma teima
Há lá quem se queima
Vá lendo o poema
De ameno tema
E além de um lema
Há lenda e dilema
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UMA ALMA MAL ARMADA
Quanto cabe no poema
Por vezes agita a alma
Talvez um gume de arma
Quase sempre tão serena
E nas letras do poema
O fio de uma lâmina
A fatiar as palavras
Numa tarefa amena
E na escrita do poema
Pena e letal espada
O gume divide um tema
Dúvida em todo dilema
E os versos do poema
Neste vale de milagres
Quase tudo vale apenas
Se a arma não é pequena
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TORRE DE PAPEL
Arar a palavra
Unir caracteres
No branco papel
Lavrar a palavra
Tecendo o idioma
Da torre Babel
A rara palavra
Na face da página
Qual rosto sem véu
Atar a palavra
Na torre escrita
Que sobe ao céu
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CONVERSÃO COM FÉ
Conversa com versos
Ser um réu com fé
Poema processo
Sem corpo delito
Nem corpo deleite
Ou corpo de letra
Ser um réu confesso
Receber em versos
Um mau veredito
No jogo das letras
Nem joio nem trigo
Apenas um grito
Apenas a pena
Para além do rito
Que segue inaudito
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ALA DA PALAVRA ALADA
Vai palavra voa ao longe
Além de nossos destinos
Muito além dos horizontes
E dos nossos desatinos
Leva teu canto ao mundo
E ao voar nos quatro cantos
Deixa no peito dos homens
Letras do fogo da vida
Poema essa ave branca
Leva as asas do desejo
Leva segredos e sonhos
De quem ama ao dar um beijo
Pássaro feito de versos
Sobrevoa esta cidade
Paira nos olhos do homem
Pousa no seio da verdade
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AS PEGADAS APAGADAS
Dançam nuvens lá no céu
Voa longe passarinho
Vai pro alto voa ao léu
Qual poema no papel
Escrevendo seu caminho
Em teu voo a leveza
Muito além deste escrito
No teu pouso uma certeza
Teu voar é a beleza
Que procura o infinito
Ave rara iluminada
Voa ao sol ou lua cheia
Essa vida é um nada
Será em breve apagada
Qual pegadas na areia
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100 MEIAS PALAVRAS
Com três paus se faz uma canoa
Com três pessoas se tem uma igreja
Com três palavras se faz um poema
Com dois paus já se faz uma cruz
Com duas pessoas já se tem ambos
Com duas palavras há uma cruzada
Com um pau se arma uma barraca
Com uma pessoa se tem alguém
Com uma palavra se arma a matraca
Com meio pau já se tem um poste
Com meia pessoa se tem aquém
Com meia palavra besta basta
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HÁ RISO E HÁ RISCO
Nos traços que risco
Meu cisma na reza
Desenha-se misto
A vida em rio raso
Desdenha-se um riso
Não piscar o cisco
Ser menos que isso
Um mero arabesco
Não mais que um rabisco
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COR EM TOM-SUR-TOM
O branco no breu
No verde um tom frio
Suave matiz
E cálida tez
Em crua nuance
A plasmar a cor
Somar-se num tom
Sumir-se no breu
Degradê do céu
Boreal o azul
Volátil anil
Volúvel na luz
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TANTAS TINTAS VISTAS JUNTAS
Na cor nascer ou não ser
No traço que se revela
Na forma que se desvela
Nos limites do espaço
Na cor ser ou renascer
Cobrir a tela de tinta
Na mão o pincel que pinta
E um olho aquém de Picasso
Na cor a obra a fazer
Preparar toda a tintura
Plasmar na tela a pintura
Matiz nuance e traço
E na cor acontecer
Gesto onde nasce a obra
Na vida que se renova
Todo dia a cada passo
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QUANDO ANDO REZANDO
Se ano após ano
Eu meço essa sina
Que peço na reza
E somo ao meu sonho
Se assim me assino
Me assumo insano
Se sigo insone
Nem me assombro
Pois ano após ano
Me somo rezando
Me uno andando
Se ando e me sumo
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SÓ DÁ DÓ DE SI
Acordar sem sono
Numa corda bamba
Ser na corda um nó
Acordar em sina
Numa cor de sonho
Sem ser mais que pó
Acordar insano
Num acorde o tom
Dura nota dó
Acordar insone
Som de nota pura
A dor de ser só
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NA IDA E NA VOLTA
Viver é fatal
Passar pela vida
É só um ir e vir
Entre o bem e o mal
Ao fim da viagem
Depois desse corpo
Ser alma ser anjo
Ou uma miragem
Ainda um mistério
Pra onde se vai
Algum paraíso
Algum céu etéreo
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VIAGEM RÁPIDA
Vida é viagem
E há uma alma
Pedindo passagem
No trilho ou na margem
Por dentro dos olhos
Tanta paisagem
Andar sem destinos
Percorrer caminhos
Correr cem destinos
No trem coletivo
De vagão lotado
Viver sem motivo
Via obrigatória
Última estação
Dessa trajetória
No ciclo do ser
Final da odisséia
Hora de descer
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UMA ALMA LEVADA
Cósmico universo
Sideral espaço
E um buraco-negro
No vácuo um voo
Que leva na aura
A luz das estrelas
Um anjo caído
Elevada alma
De asa lesada
Em seu voo cego
De asa tão alva
E alma lavada
Elevado karma
No ouro do sol
Um canto de Fênix
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EXISTENCIALÍSSIMO
Do brevíssimo existir
Alguém diz que é deleite
Rico jardim de delícias
O fruir de um banquete
Do efêmero existir
Outrem diz ser um martírio
Uma perene angústia
Um contínuo delírio
No transitório existir
Ninguém nos diz o que somos
Por que será que vivemos
E nem mesmo aonde vamos
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TEARES E ARTES
Tece a máquina na fábrica
E fabrica em desatino
Esse homem que maquina
A sina de seu destino
Essa sina se costura
Na malha em lida diária
Estampa a tinta na carne
Em vivas cores douradas
Turnos e ritmos contínuos
Os homens a labutar
Urdem o verbo na trama
Em sua luta ao tear
Essas vidas por um fio
Tecem linho e algodão
Tudo tecem nada pedem
Porém sempre algo dão
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A MÁSCARA NO TEATRO
Atrás do enigma no rosto
Na máscara de teatro
As pupilas se dilatam
Nos olhos que se escondem
Voz que ecoa no teatro
Boca a jorrar palavras
No palco um ato e um pacto
Acende um desejo o gesto
Néctar da boca de Baco
Hálito doce de vinho
E um vulto livre que dança
Que canta o sopro das musas
Transe de um corpo na cena
Por fim desce a cortina
A máscara cai do rosto
E o rosto é outra máscara
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ALJAVA DE QUIRON
Quiron o centauro
Escolhe uma flecha
E aponta a seta
Os céus se agitaram
E qualquer estrela
Se torna um alvo
Pois sabe que a seta
Acerta o destino
Todo o universo
A lua as estrelas
O sol e os cometas
Anéis de saturno
Todos os que vivem
Lá em cima no céu
Acendem as luzes
Ao voo da seta
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AS CAPIVARAS NO AÇU
As várias capivaras
Ciciam seu cio no açu
Acima das cismas do homem
Sem medo inculpes copulam
Sob a luz do azul do céu
Pastam na relva felizes
Dormem seu sono dos justos
Sonham alheias ao mundo
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O CÉU ACIMA DO AÇU
Nimbus acima do rio
Dançam na manhã do verão
E desenham sua sombra
Sobre o rosto da cidade
Cantam as águas no açu
Imitando a cor das nuvens
E os gerânios violetas
Exalam pólem no ar
E o amanhã sinuoso
Tão incerto e inefável
Como a cor dessas águas
Águas calmas e profundas
Seguem apenas seu curso
Cujas margens onduladas
Encontram no horizonte
O beijo azul do céu
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MERCÚRIO COM ENXOFRE
No crisol e na crisálida
Ou em crise existencial
A vida segue seu ritmo
Repete o seu ritual
Transmutar ouro em chumbo
Na pedra filosofal
Receber a luz dos astros
E o fogo sobre o metal
Da treva é que nasce a luz
E da noite surge o dia
Na alma nasce a obra
Da arte nasce a magia
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PARAQUEDAS PARA QUÊ?
O céu nesse salto
Um risco no azul
E um sol sob o sul
Ao léu lá no alto
Acima da nuvem
Na bruma do vento
Num voo o alento
As asas se curvam
Acima do monte
O mundo a girar
Por todos os lados
Linhas do horizonte
O voo se finda
Apesar de breve
A alma é tão leve
Que voa ainda
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DE INTENTOS E INSTINTOS
Na memória o intento
E na noite o instinto
Esquecer já é distante
Tanto quanto este instante
A lua cheia transborda
Noite alta e madrugada
Nos meandros de um idílio
Um sino retine ao longe
Na noite um corpo no leito
No leito o sonho no sono
No sonho o medo da morte
Na morte o fim da viagem
Na viagem rir da vida
Na vida o caminho da arte
Na arte a fagulha da alma
Na alma o sentido de tudo
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LINHAS DA PALMA DA MÃO
Ardem perenes eternas
As tempestades solares
Na fuga dos cometas
O êxtase da divindade
No alto acima das nuvens
Estrelas iridescentes
Em longínquos quadrantes
Ao redor da esfera azul
Oscilam tantas galáxias
Sutis miasmas etéreos
Pulsares de luzes distantes
Asteróides solitários
Na linha azul do horizonte
Fulgem raios rugem rios
No céu rutilam estrelas
Luzindo sóis e quasares
Nas linhas rubras da palma
As cálidas labaredas
Queimam rubras e voláteis
Ígnea sina e desdita
O destino arde na palma
Sinuosos os caminhos
E o sangue sob a pele
Percorre suas veredas
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AGOSTO À CONTRA-GOSTO
O tempo nos tece uma veste
E muito custa esse imposto
E lento nos dá outro susto
Gastou-se mais um agosto
Posto que vasto é o tempo
E visto que nos é imposto
Viver só um tempo sucinto
Numa sina à contra-gosto
A teia insana das horas
Aos poucos sela um desgosto
No vasto espaço do espelho
O tempo esculpe seu rosto
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PARADOXO DIGITAL
Hoje ninguém mais duvida
Dessa ávida ciência
Visceral transcendência
A sentenciar a vida
Somos povos hodiernos
A pagar tanto equívoco
Rumo ao inevitável
Ser andróide pós-moderno
Da árvore desceu a fera
Mutação evolutiva
Já homem subiu ao cosmos
Urbanóide em nova era
Nova ira e novo alento
Ser da causa seu efeito
Nessa mera vil ciência
Crepúsculo de um tempo
E veloz se aproxima
Essa era do silício
Ainda nem esquecemos
Da rosa de Hiroshima
Neurônio elemental
Entre luzes de sinapses
Emana no paradigma
Mantra e tantra ancestral
Paradoxo digital
Gerando chips e kbytes
Sem espaço pra haicais
Ficção existencial
Num sambaqui nuclear
Sarcófago virtual
Um holograma rupestre
Não poderá deletar
Do arco a mira no alvo
Ou na corda o som da lira
O sangue vivo na veia
Nem na musa o sopro em verso
Nem no cosmos a viagem
Ou de um mapa o seu rumo
Da asa o voo de um anjo
O sonho no olho do homem
............................................... 4.
ASTROLÁBIO ON-LINE
Um fugaz desígnio
Traduz cartas náuticas
Lúdica odisséia
Em vorazes insígnias
Em mapas e bússulas
Fronteiras e mares
Nos rumos do mundo
Noutros horizontes
Achar a si mesmo
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ODE AOS ESCRIBAS
Labuta o escriba
Nas vozes antigas
Símbolos e signos
Talha uma epopéia
E veste de letras
Papiros e tábuas
E nomes de homens
Destinos do mundo
Nas sendas do tempo
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PLÊIADES DISTANTES
Um risco na noite
Refulge o cometa
Celeste miríade
Os anjos e santos
Também eles amam
Estrelas cadentes
Viaja no espaço
A luz solitária
Num adeus a Deus
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FÚCSIA O VORTEX
Negra pedra ônix
Alta madrugada
Rutila um quasar
Num vortex volátil
Reluz
Um
Ao final da noite
Centelhas de fogo
Tramando a aurora
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SETAS DE CENTAUROS
Som de tempestades
Na constelação
No céu do zodíaco
Nem chuva nem raios
Sequer meteoros
Ou lunar eclipse
Apenas centauros
Entre os horizontes
Alvejando estrelas
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SÍNTESE E ANTÍTESE
O futuro não se atina
Morrer é apenas um mito
Diz o ditado sucinto
Pois viver nunca termina
É caminhar pelo infinito
Por dentro de um labirinto
E cada qual se imagina
Atendendo o quesito
De jamais estar extinto
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FOGO DE OLHO-FÁTUO
Crepita sutil
A chama volátil
Em fogo volúvel
Lilás violeta
Labareda tênue
Espalha centelhas
De efêmero lume
A dança das chamas
De luz inflamável
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SIGNOS E DESÍGNIOS
Na noite diáfana
Inflama-se a chama
Na cor do crepúsculo
Um cálido fogo
De tépido lume
E luz crepitante
Dormita
Um
Profecia e fé
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ZEN IDEOGRAMA
Volutas de incenso
Ecoa um koan
Ao sol do oriente
Nanquim cor da noite
Desliza o pincel
Pelo ideograma
Cintila um metal
Ao lume da lâmina
Sonha o samurai
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ELEGIA EM MI
Lençóis nacarados
Um ar de jasmim
Penumbra diáfana
Um sax soa ao longe
E um vinho merlot
Acorda a língua
A noite revela
Vorazes sentidos
E dois sóis se encontram
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OLHAR SIMULTÂNEO
Impar dorme o par
Sonha um com o outro
No sonho feérico
Calor de carbono
Por dentro da carne
Desata-se um frêmito
Voltar da viagem
E ao mesmo tempo
Abrem-se os olhos
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A VERDADE NA CAVERNA
Pedrinhas friccionadas
Pelas mãos de um caçador
Labaredas inflamadas
A parede da caverna
Mostra a luta pela vida
Sempre frágil mas eterna
Viva pintura rupestre
Primitiva arte mágica
Antiga vida terrestre
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CANDENTE ESTRELA CADENTE
Um olho no telescópio
Vê na forma da galáxia
Pétalas da flor de lótus
Passa a estrela cadente
Sua luz aclara o céu
E uma alma descrente
Outra fronteira abissal
Luzem distantes estrelas
Lá no cosmos sideral
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A ENTREGA E A POSSE
Com as pálpebras fechadas
Os corpos sentem o frêmito
Nas almas extasiadas
Um casal dorme unido
Em pleno ato desse amor
Um sorriso e um gemido
Densa fusão nuclear
Concupiscência e cio
Em possuir e doar
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DURANTE O ANTES E DEPOIS
Um mais um são mais que dois
São nomes e sons no antes
No durante e no depois
Aperto no coração
Uma saudade e um nome
Adeus e aceno de mão
Quintessência do cio
Dentro e fora da carne
O desejo por um fio
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O VAZIO NA PLENITUDE
No ar olores de incenso
Um templo abarrotado
Por dentro um vazio imenso
Orar sempre mais e mais
Em conexão com o além
Seres espirituais
Crer na fé e nos seus ritos
Em milagres ou malogros
De santos anjos e mitos
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OS HORMÔNIOS HARMÔNICOS
A dama passa um perfume
Escolhe a lingerie
E submissa se assume
Fervem tórridos hormônios
Tremem os nervos e músculos
Dilatam-se os neurônios
É um querer sempre mais
E
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O FRIO DO AMOR E DO MÁRMORE
A silhueta devassa
Apieda-se de si
Ao ver a freira que passa
No mármore frio da sé
Ajoelha-se outro corpo
Tremendo em tanta fé
Sopra um alento do além
Espírito preso ao corpo
Muito aquém de um amém
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ODE COM FLORES DE PLÁSTICO
Os finados tem seu dia
Evoca um par de lágrimas
A velha fotografia
Nas falsas flores de plástico
Depositadas no túmulo
Um momento de adeus kármico
Brilha a funesta sorte
Esse hábito do óbito
Nefanda e nefasta morte
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LÍNGUA NA PONTA DA ÍNGUA
Encontro de hora marcada
Íngua na ponta da língua
E a pele nua afagada
Um coito no fim da tarde
No ato da consumação
Entre os atritos da carne
Na fissura mental
Frisson e frenesi lúbrico
Num ato transcedental
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PROCURA-SE ALGUÉM ÍMPAR
Na procura de seu par
Cada um leva no peito
Um vulcão a transbordar
E no magma digital
Encontro de alma gêmea
Cada um com seu igual
Vibra a imagem binária
Lucidez alucinógena
Na sina visionária
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OUTRO PRESENTE DO TEMPO
Bolo e velas sobre a mesa
Uns cartões de parabéns
E uma festa surpresa
Na folha do calendário
A volta ao redor do sol
No dia do aniversário
Como um abalo sísmico
Nesse cíclico viver
Sempre mutável e rítmico
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METAMORFOSE EM LETRAS
Letras formam a textura
De outra cosmogonia
Numa antiga escritura
Papiros de Alexandria
Um copista fecha os olhos
Amanhece mais um dia
Raro saber e a gnose
Conhecimento de eras
Em plena metamorfose
...............................
NO AR O PÓ DAS PALAVRAS
O silêncio é partido
Soa o timbre de uma voz
Um verso é proferido
A palavra faz morada
Seja na mente ou na veia
Antes de ser recitada
Cantilena de cigana
Ou em reza de responso
O som da palavra emana
...............................
PEGADAS DE PEREGRINO
Segue só o peregrino
Caminha no campo santo
Escrevendo seu destino
Cada um com sua cruz
Uns rastejam pela terra
Uns viajam anos-luz
Quase ficção científica
Longas viagens galácticas
Numa vivência onírica
...............................
MÍMESE DE UMA ESTRELA
Numa atmosfera plúmbea
Faíscas inesperadas
Desassombram a penumbra
Alguém acende uma vela
Para clarear o escuro
Ou imitar uma estrela
Cálido universo etéreo
Dimensões superiores
Do mundo esotérico
...............................
O METAL RELAMPEJANTE
Num metal de sorte mágica
Profecias seculares
Nessa lâmina metálica
Na pele o fio da espada
Um metal que toca o corpo
Na aura uma luz de prata
Numa arma o fio do gume
Sabres de prata e de laser
Afiam a luz do lume
...............................
UNS ÁTOMOS DE CARBONO
Lago cor de erva-mate
O menino pesca um peixe
Que na água se debate
Manhã calma no ocidente
A terra gira em seu eixo
Nenhum novo incidente
Sob a luz do sol num átomo
Velocidade da luz
Que se dissipa num átimo
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CROMÁTICAS IMAGÉTICAS
Tons de cobre na cor pura
Mais lilás e violeta
Outro tom que se mistura
As tintas unem as cores
Num corpo que toma formas
De auroras e albores
Na tela de um artista
Ver o sentido da vida
Em linguagem realista
...............................
UM NOME VOA NO LIMBO
Pela página sagrada
Promessas de salvação
E uma alma angustiada
Pergunta-se o fiel
Para onde irá seu nome
Se pro inferno ou pro céu
Crer na cósmica sentença
Ou atravessar a vida
Na fé sem deus e sem crença
...............................
QUANTICAMENTE DIVINO
Momento de introspecção
Conectar-se ao celeste
Ou mera sublimação
O dedo encontra a tecla
Chega ao chip uma reza
Que se volta para Meca
Nova era
Na
Um céu de quartzo e silício
...............................
PESCADORES PECADORES
Linha do meridiano
Desconhece o pescador
Um outro cotidiano
Entre arcanos e quasares
Um satélite assiste
As fronteiras e os mares
Via química da gênese
Astrolábios on-line
E um barqueiro sob o zênite
...............................
UM SIM É MAIS QUE UM NÃO
A agulha aponta o norte
Entre ídolos de barro
E amuletos da sorte
Com a bíblia nas mãos
O pecador dividia-se
Entre um sim e muitos nãos
Alma e vida
Pela
Uma salvação hi-tech
...............................
NOVO DEVIR NO PANTÁCULO
No desenho do pantáculo
Rubras letras do devir
Palavras de um oráculo
Um demiurgo humano
Invoca um sinal sagrado
Fazendo um gesto profano
Paz no êxtase etéreo
Telúrica simbiose
Crer no divinal mistério
...............................
OS PLANETAS ALINHADOS
Propícia sinastria
Fervilha a ovulação
Evolução em harmonia
Na nívea lua cheia
O suspirar de uma fêmea
E a noite se incendeia
A noite equinocial
Constelações siderais
E um sol zodiacal
...............................
DOIS CORPOS E UMA MENTE
Entre choques neuronais
Fogem sinapses rebeldes
Dilúvios hormonais
Num ato incandescente
Dá-se um feérico encontro
Dois corpos e uma mente
Outro sonho repetido
No eletroencefalograma
Pesadelo e libido
...............................
ENTRE EFLÚVIOS ONÍRICOS
Mira o olho na luneta
A geografia terrestre
Neste canto do planeta
Países imaginários
E nos mapas de satélites
Horizontes libertários
Sutil holograma gráfico
O mundo
Num
...............................
CONTEMPORÂNEA MENTE
No instante de um momento
Um relógio parado
Não atrasará o tempo
O ontem foi momentâneo
Cabem séculos num disco
O já é contemporâneo
Na tela um óptico enigma
O milênio via vídeo
E seu novo paradigma
...............................
ENTRE A PRESSA E A PRECE
Se uma prece não tem preço
Cabem as chaves do céu
No rosário ou no terço
O corpo inteiro suplica
Se a alma sobe ao alto
É aqui que o corpo fica
Na letargia dormente
Consciência e ciência
No lado esquerdo da mente
...............................
ENTRE ÁRVORES E NAVES
O homem desceu da árvore
Construiu aeronaves
E catedrais de mármore
Outra nave ao céu subiu
E um macaco sequer sabe
Que ele não evoluiu
A ascensão meteórica
Das árvores ao espaço
Na jornada metafórica
...............................
MILAGRE EM SOLITUDE
Um ente peregrinava
Entre solitude e pássaros
Num milagre acreditava
Soava o som de um sino
Versículos entre os dedos
Selaram mais um destino
Hoje em sussurros teclados
Acasos não determinam
Os perdões pelos pecados
...............................
MÁGICA TRANSMUTAÇÃO
Extrair pólem das flores
Da uva fazer o vinho
Da tinta colher as cores
Em tirar ouro do chumbo
Labuta na faina o mago
Num sonho mudar o mundo
Na gótica utopia
Alquímica mutação
Luz do ouro na magia
...............................
REPRODUÇÃO INDUZIDA
Nono mês n’água benta
Da proveta tantos genes
Querem sair da placenta
Mais que palavra profética
A evolução humana
No milagre da genética
Mundo mundano e moderno
Duplos ícones e clones
Desse homem hodierno
...............................
AS PUPILAS DILATADAS
Sob todo o firmamento
Todo par que se encontra
Alimenta o sentimento
Nas pupilas dilatadas
A fúria de uma cópula
E ânsias saciadas
Flui o instinto animal
Permissividade mítica
Volúpia visceral
...............................
PAZ E A MORTE SEMPRE
O tempo urge assim
Acabar com os relógios
O amor ruge carmim
E rasgar os calendários
Ao fogo com as agendas
E também com os diários
Ampulheta de marfim
Revela sempre um segredo
A morte surge no fim
.................................................... 5
DESPERDIDA: Conversas Com Uma Fotografia
I
Um romance chega ao fim
Momento de despedida
Hora de dizer adeus
Fica um pouco de você
Muito em mim vai embora
Até breve e até sempre
Que sejas muito feliz
Um corpo se distancia
Indo embora pra bem longe
Mas as letras do seu nome
Me ardem na ponta da língua
Néctar de raros perfumes
Levados na brisa do tempo
Trazidos no vento do agora
A lua na madrugada
Espiava nosso amor
Invejava nosso beijo
Calor na pele afagada
Toque sutil de ternura
E na líquida volúpia
Dois corpos estremeciam
Nos albores da aurora
Acordávamos juntinhos
Nossos olhos se abriam
Ao mesmo tempo também
A luz do sol descobria
Um casal que se amava
Na rosa branca do dia
II
Seu nome era uma linha
Na palma de minha mão
Invadiu as minhas veias
Jorrou a luz em meu sangue
Tatuou-se em minha alma
Impregnou-me sonho adentro
Granada dentro do peito
A retina iluminou-se
Luz na íris dos seus olhos
Cada linha do seu corpo
Cada traço do seu rosto
Na inefável silhueta
Em sinuosa escultura
Repousada nos lençóis
Num sussurro dos seus lábios
O som da palavra sim
Desde o primeiro instante
Um hálito de promessas
E a certeza de amar
As cores de nossa aura
Sabem disso muito bem
Voar e flanar no voo
Estar mais perto do sol
Quase tocar as estrelas
Sentir a brisa na bruma
E estar dentro da nuvem
Como estar em seus abraços
Arrepio na epiderme
III
Você era o dia de ouro
Manhã nívea no jardim
O que foi melancolia
Melodia veio a ser
A escrita mais cálida
Entre letras e entrelinhas
Em meu livro-coração
Você era raio e sol
Neste peito de iceberg
O sal no meu oceano
A brisa que sopra a vela
No barco do meu destino
Onda na beira da praia
E a espuma na areia
Você era raro linho
Tramado em fios de sonhos
Desenho de muitas flores
Bordado na tela nua
A agulha do desejo
Costurou os dois tecidos
Com linhas do sentimento
Mas mesmo a primavera
Deixa um dia o jardim
Uma borboleta azul
Embriagou-se no néctar
A mesma lua diáfana
Lembra na noite crescente
O olho de uma pantera
IV
A borboleta do amor
Voou numa tarde cinza
Para além do horizonte
E não ficou quase nada
Só umas fotografias
Numa pequena caixinha
Testemunham sua ausência
Mas nas asas da saudade
Na hora da solitude
Lembrarás de quem lhe amou
No sino que soa ao longe
O meu nome em seus ouvidos
E o timbre de minha voz
Quando alguém disser ‘te amo’
Seu corpo dirá do afeto
Tangido em nossa pele
Das tempestades solares
Que nos ferveram o sangue
Dos seus sonhos e segredos
Tão sonhados nestes braços
Num dilúvio em carícias
E a rosa da solidão
Se nascer em seu jardim
Se as pétalas da lembrança
Em olores de saudade
Perfumarem seu semblante
Com meu nome em seus lábios
Ainda vive esse amor
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