NÍVEA MACEIÓ - Tchello d'Barros
NÍVEA MACEIÓ
Tchello d’Barros
A brancura, quando sublime, pode também ser um sentimento, principalmente ao se percorrer em solitude as ruas caiadas da nívea cidade de Maceió.
Lembro da emblemática cor branca dos poetas simbolistas, onde o Brasil teve como referência máxima o poeta negro Cruz e Souza. Não deixa de ser um notável contraponto a brancura que predomina em vários aspectos da paisagem e mesmo do imaginário local, quando podemos lembrar do cristalino açúcar, base da economia regional, daqui levado por navios para o mundo inteiro; do branco sal marinho extraído pela principal indústria alagoana, que produz o também níveo PVC; as espumas das ondas que se chocam nos arrecifes litorâneos ou vem espumosa saudar as areias de minha praia de Jacarecica.
É o branco das casas caiadas que se perfilam nas periferias e subúrbios; as pipas e pandorgas dos meninos das grotas, que parecem pinicar os alvos cirrus sobre a geografia da cidade; a feérica maresia salgada, que se desloca com a brisa pelas praias da região; a carne das raízes de macaxeira, inhame e farinha, expostas na Feira do Passarinho, bem como a carne do côco, tão presente na culinária local, como as tapiocas da barraca da Dona Edileuza na praia de Jatiúca.
É o mesmo branco presente no algodão, elemento iconográfico e heráldico, presente na bandeira alagoana, cor que também separa e une o azul e o escarlate da mesma bandeira, assinalando uma perspectiva de paz para esta terra de tantos contrastes.
É o branco cálido da lua que se ergue detrás do oceano na praia de Pajuçara, percorre a silhueta da cidade, e refletida na mítica lagoa Mundaú, vai encontrar na madrugada os catadores de sururu; são sos fios que se desenham entre os dedos dos tecelões de redes na praça Dois Leões em Jaraguá; a alva brancura indumentária dos afro-descendentes no exercício de seus rituais religiosos; o mesmo branco dos fios das rendeiras do Pontal, que trançam seus elementos geométricos nas rendas de Renascença, Redendê, Filé e Labirinto.”
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