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2009 - Entrevistado no site Pragmatha - por Sandra Veronese

Pragmatha
25.05.2009 – Porto Alegre - RS
Tchello d'Barros é entrevistado pela jornalista Sandra Veronese

 

 

 

 

 

 

O que viajar significa pra vc?

Tchello d'Barros: As viagens podem ser experiencias transcedentais. Podem ser um enconto com o outro, outros povos, outros costumes, mas sobretudo é um encontro interior, um tempo de peregrinação, de busca, de aprendizado. Viajar é mais do que dialogar com outros tempos e lugares, é cumprir na contemporaneidade, a missão do arquétipo do viajante, uma necessidade profundamente entranhada na alma do ser humano, de todas as épocas e lugares. Longe da rotina e do cotidiano, tornamo-nos mais íntimos de nós próprios. É o prazer de conhecer o mundo aliado a experiência de conhecer-e um pouco mais. E o mundo não é um lugar pra se conhecer pela Internet. É preciso estar nos Gêisers de El Tatio, no desertod e Atacama, para sentir sua beleza msiteriosa. É preciso estar atravassar o Canal da Mancha num trem-bala abaixo do nível do mar, para que nossos sentidos percebam a força dessa experiência. É preciso degustar o sabor de um doce de cacto, servido no Rio São Francisco, na divisa de Sergipe e Alagoas, próximo à gruta onde Lampião sofreu sua emboscada derradeira. Mario Quintana é quem dizia que 'o encanto de viajar está na própria viagem'.

 

 

Você viaja com que frequência?

Tchello d'Barros: em média, visito um país a cada ano e faço duas viagens anuais em território brasileiro. Há também as viagens que realizo por conta de compromissos profissionais, já que lido com Literatura e Artes Visuais. Nesses casos então, a gente une o útil ao agradável. Nacondição de um catarinense que desde 2004 mora na alagoana Maceió, tenho aproveitado para conhecer mais o Nordeste, não apenas as capitais, ams também uma aprte desse chamado Brasil profundo, com tantas lendas e mitos, tanta beleza que so próprios brasileiros ainda desconhecem.

 

Como escolhe os roteiros?

Tchello d'Barros: Meus roteiros de viagem são montados de acordo com interesses culturais. A arte, o idioma, as culturas populares, a gastronomia, os costumes, etc. são diferenciais que me fazem escolher um destino de viagem. Uma vez decidido o itinerário, trato de fazer uma pesquisa exaustiva de tudo que é possível sobre aquele lugar, sua história, política, atrações, chego ao requinte saber os horários do metrô, quanto custa o ingresso de um museu, a que horas fecha tal restaurante, etc. No momento está programada uma segunda viagem à Amazônia. Na primeira, fiz uma viagem de barco pelo Rio Amazonas, por cinco dias. Nessa, pretendo percorrer a Tranzamazônica, e seguir até Rio Branco, no Acre. Fora do país, meu interesse está numa travessia da sempre conturbada América Central.

 

Alguma viagem em especial mudou sua vida?

Tchello d'Barros: Uma das mais significativas foi um tempo que passei percorrendo o Perú, com seus muitos mistérios arqueológicos, sua diversidade étnica e riqueza histórica. Sobrevoar os enigmáticos desenhos gigantescos no deserto de Nazca e visitar as Ilhas Flutuantes do povo Uro, no Lago Titicaca, foram experiências inesquecíveis. Mas o ponto alto foi percorrer a Trilha Inca (El Camiño Inca), onde por quatro dias, visitei inúmeras ruínas centenárias e templos místicos, em plena cordilheira dos Andes, na neve em alguns moemntos, até chegar ao santuário sagrado de Machu Picchu. Uma experiência como essa pode não mudar exatamente nossa existência, mas faz com que nossa visão de mundo se amplie numa perspectiva mais humana e de profundo respeito pela vida, pela natureza e pela diversidade cultural.

 

Gosta de viajar sozinho ou acompanhado?

Tchello d'Barros: Para viajar como turista, considero mais adequado viajar acompanhado, pois nesse perfil de viagem se busca descanso, e entretenimento. Se isso puder ser temperado com romance, melhor ainda. Mas as viagens que faço, tem mais a ver com peregrinações, uma coisa ancestral de deslocar-se pelo planeta, encontrar outras culturas, vivenciar outros modos de vida, estar em solitude distante de tudo e de todos, transitar entre o profano e o sagrado em territórios distantes e distintos. Nesse tipo de aventura, que no fundo trata-se de ir ao encontro de si mesmo, penso que o mais adequado é ir apenas com a melhor companhia que existe, a gente mesmo. 

 

 

Que atividades você procura desenvolver durante as viagens?

Tchello d'Barros: Procuro visitar em primeiro lugar os lugares da arte, sejam museus, galerias, centros culturais, ateliês de artistas ou feiras de arte popular, pois penso que é a arte que melhor reflete o imaginário de um povo. Os ditos cartões postais são inevitáveis, mas procuro sempre incluir visitas nos principais templos religiosos, palácios, praças, monumentos, arquiteturas, labirintos e, quando possível, alguma paisagem natural. Há sempre um tempo para visitar mercados populares e apreciar algum prato da culinária típica de cada lugar. Como souvenir, opto por trazer algo da produção literária do local, como uma edição da obra completa de Jorge Luis Borges, em Buenos Aires, ou um livro de poemas de Eduardo Maso, em Barcelona. Só das andanças pelo Nordeste brasileiro, minha coleção de Cordéis já conta com maios de 300 exemplares.

 

Repete um mesmo destino?

Tchello d'Barros: Raramente. Procuro empenhar os recursos e o tempo que me resta em conhecer lugares novos. O único lugar que desejei voltar, e voltei, foi Paris, até mesmo porque há muito para se conhecer ali, Paris não acaba nunca, como dizem, e pretendo ir novamente. E várias cidades acabei voltando por conta de compromissos profissionais, então a gente sempre descobre algum outro local para visitar e conhece mais um pouco do lugar. Bem, certa vez joguei por cima do ombro, uma moeda na Fontana Di Trevi, em Roma. Dizem que fazendo isso, o destino se torna mais generoso e permite que um dia a gente volte para lá...

 

Fale um pouquinho das viagens q vc já fez... qts, pra onde, etc...

Tchello d'Barros: Procuro dosar minhas andanças entre conhecer o Brasil e intercalar com viagens para outros continentes. Até o momento perambulei por vinte países, e aqui no Brasil, falta conhecer Amapá, Rondônia e Acre. Na medida do possível, tento dosar os roteiros com ítens como aprendizado, cultura, esoterismo, aventura e também aquilo que considero muito importante numa viagem: deixar uma certa quantia de tempo e espaço, digamos assim, para o imprevisto, para o inusitado, o inesperado. As surpresas de uma viagem, não raro, podem ser experiências inesquecíveis. Outra consideração é olhar tudo, perceber os aspectos que contrastam com o modus vivendi do meu lugar. Mas olhar sobretudo o ser humano, é sempre o que há de mais interessante. E isso vale para uma noite no Red Light District em Amsterdam, ou uma tarde junto aos hieróglifos da Pedra do Ingá, no sertão paraibano. E meu lema de viajante é a citação de Ralph Waldo Emerson: 'Ainda que viajemos para encontrar a beleza, devemos levá-la conosco, ou não a encontraremos'.

 

 

 

www.tchello.art.br
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Tchello d'Barros ESCRITO POR Tchello d'Barros Escritor
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