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Por que a fé às vezes não basta?

Guilherme,

Estive durante esse último ano pensando na resposta para sua pergunta: Por que a fé às vezes não basta?”. E quanto mais penso, menos certeza tenho sobre o que vem depois da morte, a existência de Deus ou quem controla os acontecimentos...

Sabe, às vezes, fico imaginando o que estarás aprontando no lugar em que estás. Outras tantas, eu brigo com Deus por ter te roubado de mim, meu menino. E nas noites em que não vejo a nossa estrela, eu choro por causa das lembranças; nunca tinha me dado conta do quão dolorosas podem ser se conservadas.

Já faz tanto tempo e mesmo assim a sua falta ainda machuca. Os dias passam, você não vem, a esperança continua em meu coração, pois eu ainda espero te ver chegar com um sorriso a iluminar as minhas manhãs, ouvir a tua voz melodiosa cantando alguma canção idiota que você aprendeu na noite anterior só para me irritar e perceber quão rápido ficam seus passos depois que você me ver.

Quando eu não estou com você, é como se eu não estivesse comigo. Anoitece e amanhece. A sua falta me enfraquece, a solidão quase me enlouquece, mas eu continuo aqui lutando para me pôr de pé todos os dias, mesmo sem a tua mão para me guiar e sem os teus pés para marcar o caminho. Às vezes tenho sucesso... E às vezes eu não tento ter sucesso. Simples assim.

Lembro que todos falaram que a dor iria passar. O tempo cura - eles diziam e, hoje, me pergunto o que eles são: mentirosos ou iludidos? Afinal, faz mais de quatro anos, o tempo nada curou e a dor continua sendo minha única companheira.

Sabe, Gui, algo quebrou dentro de mim depois da sua partida. Sou incapaz de amar quem quer que seja com receio de perder a pessoa e sofrer. Quisera eu poder me curar desse temor, mas não posso. As pessoas tentam se aproximar de mim, entretanto eu as afasto com minha frieza e meu comportamento distante como se não me importasse com elas ou com o que dizem.

Estou presa numa redoma de vidro criada por mim mesma. Longe dos sentimentos, das emoções, das pessoas, dos acontecimentos e da vida. E o pior, Gui, é que essa redoma me faz bem. 

Até nossos amigos pararam de me convidar para as festas e reuniões, minhas amigas não me chamam mais para fazer comprar e conversar, meus familiares aos poucos deixaram de vir aqui em casa para ver como estou.

Isso tudo por causa de mim e do meu comportamento; não comparecia mais as reuniões e festas marcadas, não saía mais de casa, não atendias as ligações e fingia não estar em casa quando alguém aparecia. Só pensava em ficar sozinha e me punir por estar viva e você não.

Desculpe-me por não ser mais aquela garota espontânea, alegre e comunicativa. O problema é que não posso simplesmente continuar sem mim, sem você, sem nós, pois quando eu não estou com você, é como se eu não estivesse comigo.

Sinto a sua falta,

                           Dulce.

 

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IORGAMA PORCELY ESCRITO POR IORGAMA PORCELY Escritora
São Leopoldo - RS

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