Fragmentos de uma poeta
E a poeta se personificou
animou imagens mortas
viu beleza em mãos sulcadas
saiu do casulo e voou
poetizou a Justiça
fez justiça à poesia
E a poeta se personificou
excomungou as querelas do coração
entendeu os contornos da vida
sentiu a integração do multiverso
revirou os seus reversos
E a poeta se personificou
não deixou sua nau submergir
entregou-se às paixões... amou
sobreviveu, incólume, às desolações
fotografou-se em pele de felina
E a poeta se personificou
decifrou as impressões do escuro
despiu-se das certezas
remontou seu quebra-cabeça
em terreno árido versejou
tocou o desabrochar da flor
E a poeta se personificou
não concebeu o amor sem saudade
amadureceu meio sã, meio louca
o sol da Pajuçara se enamorou
acertou-se no tamanho do desacerto
E a poeta se personificou
buscou focalizar seus ângulos
resgatou memórias de 1985
acalentou seu menino
hoje, cidadão do mundo
penando as dores de um idealista
E a poeta se personificou
refletiu-se através das amigas
teceu novas teias para seu viver
empinou sua própria pipa
em vento que sopra lucidez
E a poeta se personificou
fugiu de si e se encontrou
refez alicerces à prova da erosão
deu as mãos à poesia
e dançou em todos os ritmos
de um novo ponto de partida
Simone Moura e Mendes
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Comentários
Belíssimo texto. Fiquei encantado! Parabéns!