Na boquinha da garrafa
Eram três os que na lancha entraram. O primeiro carregava bolsas plásticas contendo quinquilharias, o segundo trazia na mão esquerda uma garrafa de pinga e o último trazia moedas em uma das mãos. Sentaram-se no banco de madeira.
Conversavam algumas coisas, balbuciavam outras, entre risos e irritação. O homem que segurava as moedas se dirigiu para o mais jovem do grupo. Alterado, disse-lhe:
—O que você tá dizendo, seu porra? Caralho!
— Nada não. Tá doido é?
Aquele que segurava a garrafa interferiu, dizendo:
— Vamo pará com essa arenga besta. Seus dois bestas! Vamo toma é mel.
Pegou a garrafa, tomou um gole, passando-a de mão em mão; retornando as suas conversas com frases e gestos curtos. Somente a garrafa, com sua boca circular e áspera, aceitava aqueles beijos bacanais.
O restante dos passageiros deixou as estripulias deles prá lá, voltando-se cada um para seus estados de espírito.
Os rostos eram tão diferentes, as histórias psicossociais, os sofrimentos escondidos no mais secreto do coração, no mais profundo miolo do pote onde ninguém consegue penetrar.
E eu estava incluído neles também. Os via, não com os olhos que lacrimejam, mas com aqueles que não se veem.
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