Não gosto de cidade grande
Não, eu não gosto de cidade grande.
A cidade grande é o maior esgoto que todo ser humano pode apoderar-se.
É nela que eu percebo o quanto inescrupuloso é um homem.
Não gosto de cidade grande porque é nela que habita o descaso;
E o desprezo.
A insensibilidade...
Eu não gosto de cidade grande porque me lembro de crianças passando fome.
E pela minha obrigação medíocre de percorrer neste espaço que tanto me apavora, eu posso ver diante da minha janela a inocência chegando ao abismo.
Poderia, ainda hoje, haver inocência?
Vou para uma cidade grande e observo a malícia da inocência, inocência que escafedeu-se.
Não, eu não gosto de cidade grande, porque têm muitos carros que me deixam louca sem saber a que momento atravessar a rua.
Porque têm pessoas passando para lá e para cá, sem me dá bom dia, boa tarde, boa noite, pisando o meu pé sem me pedir desculpas;
Porque têm sirenes para todos os lados acelerando meu coração que é frágil demais para imaginar que naquele mesmo momento em que estou sentada no transporte escolar, está havendo incêndios, assassinatos, acidentes...
Não, eu não gosto de cidade grande. Ela me apavora, me estremece a alma.
Não gosto de cidade grande. Porque ao invés de perder meu sono com o barulho dos carros passando pela janela da minha casa, prefiro perdê-lo ouvindo o ronco do mar.
Comentários
Belo texto!
Gabriela, muito obrigada pelo comentário e pela leitura. Um forte abraço!