Escrever não é um dom – Conclusão
Procurei, com base nas experiências de outros autores e minhas, demonstrar que a escrita literária ou técnica não é um privilégio de poucos ou que tenha uma ligação divina. Para concluir meu ponto de vista, transcreverei experiências próprias:
Antes de participar do prêmio literário Alina Paim, pedi a opinião da professora Dilma Marinho de Carvalho. Ela me aconselhou a melhorar os diálogos, os tempos verbais e sugeriu mudanças em várias partes do livro. Pediu que eu fizesse outra revisão. Disse ela: “Acho que você deve fazer outra revisão, pois há coisas q só o autor pode decidir mudar”.
Não retruquei. Enquanto seguia seus conselhos, percebi que no miolo do livro havia um capítulo deslocado. O que fiz? Sem dó ou piedade, eu o exclui com veemência. Continuei minha revisão, apagando parágrafos, escrevendo outros, substituindo palavras até o livro ficar pronto para o envio. O resultado foi a primeira colocação na categoria infanto-juvenil do citado prêmio.
O meu recente título, A menina das queimadas, foi revisto por mim várias e várias vezes até chegar ao ponto onde defini que estava pronto para publicação.
Então, enviei o livro para a revisão. A revisora ao concluir seu trabalho, disse: “Para deixar a leitura mais suave e formalizada, realizei a mudança de verbos como a gente tinha para tínhamos, sem comprometer o sentido do texto”.
A revisora seguiu sugerindo outras mudanças. Ela sugeriu a mudança da frase “Viver para dentro de casa” por “viver dentro de casa”. Eu recusei a sugestão dela. Querem saber por quê? Porque se a preposição para fosse excluída da frase tiraria o brilho da ideia e a mensagem nela contida. Por que fiz isso? Porque nem sempre as regras devem prevalecer sobre a mensagem do texto. Para isso, é necessário conhecê-las.
Para os espirituais, concluo: deixe a sua mente livre para a criação, mas conheçam todas as técnicas que a escrita criativa exige.
2 mil visualizações •
Comentários
É, meu caro Ronperlim, sei o quanto é difícil a labuta de escritor. às vezes, quando revisamos o miolo de um texto pensamos que ele nasceu pronto, quando em verdade não admitimos que há imperfeições que o capítulo deslocado e sem piedade ceifamos. Tentamos fazer de nosso corcunda de notre dame o mais perfeito possível para então expor ao público. Tarefa árdua mas gratificante. Superinteressante ter postado um manuscrito.
Fábio, obrigado pelo comentário. Escrevi esse artigo (dividido em três partes) para que os jovens compreendam que a escrita não depende de um "santo que baixa", mas de trabalho fatigante. Até mais! Visite: www.ronperlim.com.br/