Uma morte, uma lembrança chamada Mãe.
Durante anos, todas as madrugadas sua rotina era a mesma.
Acordava, enchia seu carrinho-de-mão de legumes e verduras e partia para a luta.
Vendia tudo que podia e desse para criar seus filhos. Eram vários.
Seu rosto já refletia o cansaço.
Naquela madrugada tudo que construíra teria fim.
Não sabemos o fim das coisas, só o começo. As vezes até confundimos este.
As vezes nosso começo não é dos melhores, portanto, passamos a vida inteira, ou até onde podemos ir, tentando mudar seu rumo na construção de um final menos triste.
Caminhava...
Fora surpreendido por um sujeito, talvez dois, não importa, o que importa é que quem o abordou agia como deus, podendo decidir quando a vida deve acabar.
Os homens que acreditam ser a imagem e semelhança de deuses são terríveis e sanguinários.
Diferenciam-se dos outros. Vangloriam-se. Se autodestacam como superiores.
Não passam de tolos. Como ser a imagem e semelhança de algo que eles mesmos criam?
Voltando para não me alongar.
Ouviram-se tiros. Esses tiros acordaram o silêncio do frio madrugal.
Ouviram-se gritos. Como eram desesperados!
Ele, o homem, o trabalhador, o pai.
Gritava rastejando. Tentando fugir de uma morte a ele imposta por seus iguais.
Chamava por sua mãe. Talvez esta já estivesse morta. Ninguém sabe.
Sabe-se apenas que, o abandonara ainda recém-nascido numa caixa de sabão à porta de alguém.
Por toda vida sofrera essa ausência. Na hora da morte, foi a primeira pessoa por quem chamou. Chamou pela mãe. Morreu pelas mãos dos homens. Cruéis. Quem sabe deva ter imaginado, na agonia da morte, o colo daquela que sempre sonhou em conhecer.
Ainda hoje, aqueles gritos não me saíram da mente.
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar,
distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao
autor original. Você não pode fazer uso comercial desta obra.
Você não pode criar obras derivadas.
0
1 mil visualizações •
Denuncie conteúdo abusivo
1 mil visualizações •
Comentários