QUE SAUDADE DO SÃO JOÃO DE SÃO MIGUEL E DAS SUAS TRADIÇÕES
Os festejos juninos sempre fizeram parte das tradições da nossa terra. Muitos dias antes de junho, o ruído ensurdecedor dos serrotes e nas flechas de maraiá já azucrinavam os ouvidos dos moradores da Rua da Barreira, da Rua da Olaria e da Rua da Aurora.
Naquele tempo, na cidade de São Miguel dos Campos, existiam vários homens que fabricavam fogos artifícios, entre eles: Manoel Fogueteiro e Amabílio Bezerra, este último era meu avô. Tempos depois, surgia outro grande mestre dessa belíssima arte, conhecido pelo pseudônimo de João Boi, que trabalhava com a família preparando coloridas chuvinhas, pistolões, diabinhos, chorões, coqueirinhos, traques, foguetes, bombas de vários tamanhos e os perigosos, porém inesquecíveis, craveiros, mijões e busca-pés.
Junho já principiava alegre, não obstante a chuva e o frio, com a exibição de Santo Antônio, mal anoitecia, e muitas casas abertas e iluminadas, denunciavam a louvação do santo casamenteiro. Na véspera do dia treze, então, dia dos namorados, se perdiam a conta das residências onde o santo era festejado e a ele os pedidos de casamento.
A alegria vibrava em meio ao corre-corre das jovens, ou solteironas dos pedidos e para adivinhações de quem seria seu tão esperado pretendente.
Quando não atendidas. Lá padecia o milagroso santo, roubado, deitado de bruços ou de cabeça para baixo atrás da porta, (coitado) afogado em balde d´água.
Pingos de velas em uma bacia, até formar a letra inicial de seu futuro apaixonado, ou enfiar uma faca virgem na bananeira para no dia seguinte também saber seu nome.
Na véspera do São João e São Pedro, as ruas ficavam completamente enfeitadas de bandeirolas, mastro de mamoeiro e de bananeira, junto às fogueiras que nenhum morador deixava de fazer.
E os memoráveis combates de busca-pés, craveiros e mijões, eles usavam até toque de corneta anunciando a hora de começar (21h). Era uma verdadeira guerra, que apesar dos insultos, da rivalidade e dos feridos, tudo terminava em paz. Os mais concorridos e respeitados acontecia na Praça do Mercado e na frente da Igreja Matriz, com pessoas das mais importantes famílias da cidade, na época.
Quando as fogueiras baixavam suas labaredas, saltando sobre elas, eram contraídos os “compadres” e as “comadres”, ato este que ficava consolidado e respeitado para sempre.
Ninguém repousava nas grandes noites juninas, quem não participasse teria que suportar em casa o barulho dos fogos, da algazarra, dos coco de rodas, dos sanfoneiros, das quadrilhas, tanto nas ruas mais simples, aos importantes sobrados das famílias abastadas daquela época.
O som e o cheiro dos preparativos das comidas típicas, impregnavam o ar o dia inteiro, em todos os lugares; canjicas, pamonhas, milho cosido ou assados, bolo de milho, beijús, pés-de-moleque, má -casadas e, claro, quentões – e tantas outras bebidas para serem consumidas até o amanhecer.
A grande atração era o palhoção do Pedro Dias, próxima ao portão da fábrica Vera Cruz e o palhoção do Osmar Tenório, localizado na Rua Primeiro de Março, verdadeira disputa entre si, um querendo ser melhor que o outro, o mais bonito na história era que o forró de lá era original o tradicional forró-pé-de-serra, onde os sanfoneiros tocavam a noite toda, outro fato que chamava atenção era a exibição das quadrilhas de fora, como também do próprio município, que abrilhantavam os festejos juninos, nas duas localidades.
Com o tempo vieram os concorridos bailes de clube, os últimos deles, o ACEM e o Canavieiro, suas dependências eram transformadas em grandes “arraiais”, com caprichadas decorações. A sociedade comparecia em peso, pessoas de todas as idades iam se divertir ao som do “forró de verdade”, com bandas consagradas da época, geralmente de Pernambuco e da Paraíba, mais os trios de forró, eram os mais que tocavam a pedido do público.
Com o fechamento dos clubes, o São João de São Migue dos Campos, teve uma grande recaída, só no final dos anos de 80, na gestão do então prefeito Francisco Hélio, que trouxe pela primeira vez, artistas consagrados nacionalmente para shows (fechados) no Ginásio de Esportes(Elba Ramalho, Alceu Valencia, Beto Barbosa, Chiclete com Banana, Zezé de Camargo e Luciano, Dominguinhos, etc”, como também shows populares em um grande “palhoção” no pátio da Rodoviária, com um marketing bem elaborado. A cidade de São Miguel dos Campos, tornou-se pela primeira vez a capital do forró em Alagoas, com a música de Cláudio Rios “São João é São Miguel”, chegando a concorrer com as poderosas e tradicionais festas de Caruaru e de Campina Grande, que saudade do São João de São Miguel e das suas tradições
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