PEGA LADRÃO
RESENHA CRÍTICA do Espetáculo teatral com o grupo SaudáveisSubversivos. Local: Teatro Jofre Soares - SESC Centro Maceió - DIA: 02.04.2004 - às 20:00 h. Tema: Falso moralismo. Gênero: comédia satírica. Elenco: Flávio Rabelo, Valéria Nunes, Glauber Xavier e outros. Direção de Glauber Xavier. Curso de Artes Cênicas: Teatro Licenciatura. Aluna: Marluce de Almeida Carlos (Lucy Almeida). Professora Dra. Nara Salles.
A peça remota a vários aspectos vivenciados pela sociedade como o abuso dos poderes civil, militar e político; discriminação social: o pobre, o pederasta, o analfabeto, o desempregado. Faz crítica à Igreja Universal, à indústria de consumo, aos programas policiais de rádio e TV, à projeção sócio-cultural dos programas de calouros, ao desempregado. Através de colagens a história se desenrola com a ajuda do ¨intelocutor¨ - a voz da ¨Consciência¨. Os ¨ladrões de galinha¨ são, na verdade, bode espiatório dos verdadeiros ladrões - ¨os de gravata¨. Aqueles roubam para sobreviver. Estes, para ¨se engrandecer¨ (e deixar milhares à míngua). A proposta é pertinente.
Apesar do texto, por si só, induzir o espectador ao riso (que é a proposta da comédia, rir da própria miséria), houve abuso de caricaturas e gestos obscenos que, em dado momento, tornou o espetáculo cansativo. A Caloura ¨à la Wandeca¨roubou a cena com suas incontáveis expressões faciais cômicas, num verdadeiro desfile de caras e bocas, acompanhados de expressões corporais à altura. O Policial, sempre com as pernas abertas, em arco. O dois ladrões, um com o ombro suspenso e o braço em ¨V¨, ambos do lado direito, a boca articulando um eterno ¨U¨, o outro ladrão, com os olhos esbugalhados e os braços sempre armados, mãos espalmadas com movimentos robóticos. Não quebraram suas ¨posturas¨ quando a cena exigia movimento condensado, que foram raros, mas evidentes e repetitivos. Nos movimentos ondulatórios destacaram-se as piruetas e os deslocamentos sempre nos planos alto e baixo que obedeciam a mesma sincronia e direção. A ocupação do espaço cênico era feita em linhas circulares, iniciando sempre do lado direito (visão do espectador) para anunciar um episódio novo, e em linhas retas transversais para indicar o conflito, sempre em plano alto.
O figurino adequado à proposta, se distanciava da realidade. Mas, no país do futebol, o poder demanda do ¨juiz¨ e o livre ¨arbítrio¨ faz do país ¨um circo¨ comandado pelos ¨poderosos¨ e seus habitantes ¨palhaços¨. A simbologia das cores e a composição coreográfica estavam coerentes ao contexto circense. Não houve excessos nos adereços, assim como nos elementos de cena.
O cenário, esplêndido! De um efeito magistral. Harmonia perfeita com a proposta: todo confeccionado com sacolas de plástico, com predominância do branco, além do azul, do amarelo e do preto, formando uma enorme tenda, e muitas sacolas espalhadas por toda a plateia, pelo chão e poltronas. Um impacto.
É um trabalho diferente dos demais apresentados pelo grupo. O espetáculo, apesar de ser uma comédia, prima pelo abuso de muitas caricaturas e gestos pelos atores, para passar a mensagem do riso, mas houve quem se embolou. No entanto, no próprio texto, a comédia está impregnada. Não houve aproveitamento desse recurso: usar a indução natural para o riso espontâneo.
O grupo está de parabéns pelo excelente trabalho e o público, um felizardo em poder apreciar ¨a nossa gente¨em mais um espetáculo digno de aplausos.
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