Como pode
Como pode?
Chove lá fora e aqui, tá tanto frio. Me dá vontade de saber... As nuvens são negras e não param de chorar; parecem não ter fim. Olho a minha volta e vejo como que um paredão prestes a ruir, tamanha negritude e gotas inflamadas pela dor. Como pode? Pergunto eu. Como pode? - Há uma cortina em vertical que nunca se encolhe, é como que no palco encantado dos sonhos não houvesse espaço para o fantastico reino da vida. Como pode? Vejo apenas uma nuvem negra a chorar a gota solitária da alma, dizia eu. Cheguei a contá-las. Contei uma, duas, fui até a terceira, não, exagerei um pouco, fui até a quarta, mas no final percebí que havia apenas uma. Eu refiz a contagem. Pensei, pode ser que eu tenha enganado. Refiz uma vez. Refiz outra vez. Vi que não passava disso; de fato, apenas uma gota de lágrima descia da nuvem negra. Lembrei-me de uma antiga canção de Lobão - Me chama - "Chove lá fora e aqui, tá tanto frio - me dá vontade de saber...". Era ela, a gota solitária.
"A Poesia está na alma do poeta; a Poesia é viva".
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