Pés que Brilham, Cor que Alumia; os brancos não são os únicos
Novamente aqui nos encontramos. Digo até mesmo no plural, pois, de fato são dois sentimentos que podendo assim os considerar, caminham conosco; uns livres, outros infelizmente presos, escravos em suas emoções e pensamentos, que contrário aos requisitos do Criador, a Divindade Suprema, e autor da vida, - Deus –, vivem com suas mentes incapazes de reconhecerem a grandeza do ser que igualmente somos, indiferente à cor, raça, credo ou religião, que por certo, seria um outro assunto a ser abordado.
Na verdade, eu pensei, pensei, e tornei a pensar. Andei para lá, para cá, por três vezes levei a mão ao queixo, olhei da janela, voltei-lhe as costas, tornei a virar, agora estou de frente, e admirado com tal espetáculo, vi como numa visão profética, aliás, se existe uma necessidade latente nos dias de hoje é a necessidade de visão, direção profética; visão que nos dê entendimento (Sl 53:1c-3), sabedoria, e ainda mais, compreensão; visão que nos remete a certeza que nossos caminhos antes de ser nossos, são D'Ele; visão que não dá mais para errar, e entrar numa rua sem saída como muitos; não há acerto sem sensibilidade de discernir espiritualmente; lembre-se. Enfim, vi os traçados num imenso horizonte como de um colorido lápis preto e branco em volta as montanhas enverdecidas. Esse lápis subia e descia ranhando as bordas daquela estonteante, tamanha beleza, imagem; era um lápis diferente que contornava desde a base esquerda até a direita num movimento sobe-desce em volta àquela montanha. Esse lápis fazia movimentos também na vertical como quem tivesse medindo alguma coisa; ora pra cima, ora pra baixo: ora direita, ora esquerda. Todo esse trajeto que fazia, me fez pensar nos Olhos do apocalipse que percorria toda a terra, medindo, pesando, somando, subtraindo, multiplicando e algumas vezes, até dividindo; "contemplando os bons e os maus; os justos e os injustos". A visão era fascinante! E o mais interessante era que esse lápis não era colorido mas sim, preto e branco somente; somente preto e branco. Quisera eu, que fosse de fato um Arco-Íris, e quem sabe assim, o universo voltaria sua mente para a aliança do Criador com o "velho" Noé, o construtor de arca (Gn 9:13), a nosso favor, humanos pecadores. Por um momento contemplei aquela imagem sobrenatural e fiquei meio que perturbado, a princípio sem entender o que seria, quando lembrei-me do salmista Davi no seu glorioso e eterno salmo 19 quando diz que: "Os céus e a terra contemplam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras de suas mãos" e, "não há palavras, não há linguagem que possa descrevê-lo"; o que diante disso não contendo em minha emoção, me coloquei a pensar e buscar nos quatro cantos dessa aguerrida terra, se deveria de fato, escrever sobre esse assunto – segregação racial –, haja vista tamanha repercussão que poderia gerar nesse mundo "patriarcal", face a essa universal desigualdade social que ao longo dos tempos temos assistido, e de tão complexo, por ora polêmico, poderia ser que ninguém interessaria lê-lo, quando lembrei-me ainda de uma ilustre frase do conhecido escritor e professor de história da Unicamp Leandro Karnal quando disse que: "se recuso um texto porque acho que não será lido por alguém, é porque dialogo mal com minha vaidade", e na sua opinião ainda, "a vaidade e o orgulho constitui na tradição religiosa, o primeiro pecado", assim sendo, para não tornar-me um pecador em extremo, ser queimado na fogueira da Inquisição, ou crucificado no calvário, digo eu, aceitei, mediante minha livre consciência, escrevê-lo; esse livro que, e faço aqui as palavras de Abujamra quando diz "pode não ser uma janela aberta para o mundo, mas certamente é um periscópio sobre o oceano do social". Entendi por fim, que a visão me levaria a escrever sobre a infeliz diferença entre brancos e negros, claros ou escuros, verdes ou castanhos, lisos ou crespos, calçados ou descalços, vestidos ou nus, ricos ou pobres, grandes ou pequenos, e etc, etc…
Mas enfim, considerações à parte, novamente aqui nos encontramos, eu e meus dois gloriosos sentimentos que de acordo com o Silveira Bueno, nada mais são que o ato de sentir; sensibilidade; paixão; finalmente, minhas livres émotions et pensées, ou "emoções e pensamentos" caminhando de mãos dadas, numa satisfação ainda muito maior, indizível quem sabe? Como regidos pela batuta da Verdade e Justiça do Regente Maior da Vida que do alto comanda na terra, com olhos de amor e compaixão, essa fantástica, sublime e contrária ao que deveria ser, insubmissa, corrupta e infelizmente, destroçada orquestra multirracial, quando de sua sublime sensibilité, no francês a língua do sorriso, ou, sensibilidade pelo coração da alma, numa louvável exposição do grandioso valor dos "frè yo nwa" - no Crioulo Haitiano – idioma – ou "irmãos negros"; na apresentação do grande valor dos irmãos negros, a comunidade negra, que indiferente ao seu inconfundível e brilhante colorido onde se destaca as demais, se torna a grande luz da história; a comunidade negra que nada mais é, ou possui, numa gloriosa rima inspiradora "a bravura de um povo lutador", como exposto no quadro a óleo, uma aquarela de Jean-Baptista Debret -1768/1848, famoso Debret e as chamadas "As Escravas de ganho", que segundo a amostra, passavam o dia nas cascalhadas e empoeiradas ruas vendendo suas frutas e doces, a chamada Quitandeira de Ferrigno, que na verdade não oferece seus produtos, mas permanece sentada e cansada, onde o painel mostra uma luminosidade ardente incidente sobre a figura daquela quitandeira para acentuar dessa forma, o tom de sua pele. O seu corpo naquela aquarela, possui um volume e se destaca na cena. É um corpo forte, possivelmente acostumado com o pesado serviço braçal. Mesmo que a intenção do artista tenha sido a de se utilizar de uma imagem, ora sentimental daquela mulher negra – a Quitandeira – para angariar simpatias em premiações de salões, como sugere Maraliz de Castro Vieira Christo (licenciada em história pela UFJF e mestre pela UFFluminense), podemos entender o que vai além dessa quitandeira: a luz baixa, os tons terrosos, o lugar pobre, os poucos objetos como ervas e chinelos em desordem, sugerem um futuro sem perspectivas ou pouco promissor, mas nunca desanimador, completo eu.
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