Paulo Freire e os direitos humanos
Quando, na companhia do Pierre e do Maradona, tocamos um jornalzinho na Faculdade de Medicina da USP (éramos funcionários da Biblioteca na década de 1990), o Sr. Fernão, bem mais velho e vivido do que eu, me disse o seguinte: "faça de sua caneta uma espada e lute!"
Era mais que um conselho, era uma finalidade para a escrita, conquanto modesta, de um jovem que desejava ajudar, à sua maneira, a transformar nosso mundo repleto de injustiças sociais, de preconceitos e exclusão, em um lugar melhor para todos.
Nunca me filiei a um partido político, a uma religião ou a uma corrente filosófica, mas, na qualidade de professor de história, sempre fiz o possível para formar cidadãos críticos e solidários, promovendo o debate de ideias por acreditar na tolerância e no respeito pelas diferenças. Jamais me fiei no ódio e na violência como meios de transformação, pois a história, que é mestra da vida, me ensinou que esse tem sido um caminho de atoleiros no qual a humanidade enfia os pés desde sua origem, sem conseguir superar o domínio de uns sobre outros.
Acredito na educação inclusiva e prefiro a sabedoria, que se desenvolve lentamente, à ignorância, que já nasce pronta.
Assim como na docência, tentei fazer de minha escrita um espaço de reflexão crítica, jamais de ódio. Para mim, a espada aludida pelo Sr. Fernão não é um instrumento de morte, mas a lâmina da razão que deve ser manejada com cuidado para desfazer a ignorância que habita em cada um de nós. Em mim inclusive, como é óbvio.
Não nasci escritor, ninguém nasce: com nossos professores aprendemos a ler e a escrever. Alguns de nós sentem que a escrita, mais do que a expressão oral ou outra, se ajusta melhor à sua personalidade, ao seu jeito de ser. Foi o meu caso. Sem pretender atingir a excelência, procuro aprimorar a cada dia esse meio de expressão e, mesmo estando a anos luz de uma escrita plenamente eficaz, fui agraciado com um prêmio literário, do qual resultou a publicação de "Quase Negros", meu primeiro romance. No ano passado publiquei "Obra Maldita" pela Amazon, um romance que, a exemplo do primeiro, discute, junto com os personagens, as contradições sociais e existenciais nas quais estamos encerrados.
Essa a missão de minha escrita, fazer pensar. O primeiro deles, "Quase Negros", tem como pano de fundo a loucura do autoritarismo durante a ditadura militar. O segundo, "Obra Maldita", faz pensar sobre o obscurantismo e o patriarcalismo presentes em nossa sociedade. Ambos recorrem ao sonho como estrada para um mundo melhor.
No entanto, minha escrita não se resume a literatura. Minhas pesquisas no Mestrado e no Doutorado, assim como a atividade docente, me levaram a trilhar outros formatos, por assim dizer teóricos. Além de artigos em revistas especializadas, participei de livros cuja missão, como o de meus romances, é o de fazer pensar.
O último deles discute, sob o olhar de vários pesquisadores, as ideias de Paulo Freire e os Direitos Humanos. Meu capítulo chama-se "Basta (realmente?) de Paulo Freire!", o qual discorre sobre a história e as ideias da "Escola sem partido" à luz da sabedoria freireana. Espero (ou melhor, nós autores esperamos), que o livro faça pensar, e que a reflexão nos ajude a todos a superar a ignorância, para que um dia possamos viver nossas vidas com a sabedoria proposta pelo mestre: com carinho!
Organizado por Renato Polli e César Augusto R. Nunes. Paulo Freire e os direitos humanos!! Edições Brasil.
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