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AMORES

Este conto faz parte do livro, disponível pela Amazon, Um Dom Amaldiçoado

- Eu estou apaixonado.

- Por quem?

- Por você.

- Mas eu não sinto nada por você.

- Talvez se você me desse uma chance podia sentir algo.

- Eu não posso. Eu sinto muito, eu sou comprometida.

- Com quem? Eu nunca te vi com ninguém, Clarice. Por favor me dê uma chance.

- Eu não posso, entenda, eu já gosto de outra pessoa.

- De quem? Você está sempre sozinha. Duvido que conheça qualquer pessoa além de suas alunas.

- Como pode ter certeza? O que você realmente sabe sobre mim?

- Eu sei que você é a mulher que eu amo, a mulher pela qual cada suspiro vale a pena.

- Não, você não tem ideia do que está dizendo. Só está confuso.

- Como o meu irmão esteve?

- Não, não fale dele. Vá embora!

- Você sabe que ele te amava e foi por sua causa que ele morreu. Não faça o mesmo comigo. Não me deixe morrer por sua casa.

- Não, não diga essas coisas. Eu não tive culpa, eu não fiz nada. Ele que...

- Ele se enforcou. Ele não devia ter feito isso, mas você não lhe deu escolha.

- Ele tinha escolhas sim. Se tivesse conhecido outra pessoa, ele podia ser muito feliz agora.

- Não, não é possível ser feliz depois que se conhece você. Você não percebe? Você é bonita demais para não ser amada. Até suas alunas estão encantadas por você.

- Não é verdade.

- Sim, é. Você é a mulher mais bonita que já foi vista por essas bandas. Talvez em todo planeta terra.

- Pois eu não quero ser. Adeus e não volte mais por aqui – dito isto, Clarice fechou o portão e retirou-se para o interior de sua casa.

- Quem era? – perguntou a mãe.

- Ninguém importante. Você sabe como essas pessoas são. Vivem a nos importunar.

Não era bem assim. Sua mãe sabia disso. Se alguém naquela casa estava sempre a ser importunada, era sua filha. E sempre foi assim desde que ela entrou na adolescência. Os rapazes viviam correndo atrás dela. Eram ligações incessantes feitas no meio da noite, cartas que não paravam de se acumular na caixa de correios e, quando saia com a filha, olhares incômodos e perseguidores. Como era terrível! Não podia deixar a filha um minuto a sós com medo do que poderia acontecer. Teve que deixar de trabalhar depois que um sujeito invadiu a sua casa no intuito de raptar sua filha. Era tamanha loucura que nem ela mesma sabia como era possível.

Para piorar, uma das vizinhas teve a coragem de acusar sua filha de assassinato, o que era uma grande mentira. Que culpa teria sua filha que um rapaz, do qual ela não gostava, tivesse tirado sua própria vida por não aceitar uma rejeição? Estranho como algumas pessoas podiam ser tão drásticas. E Clarice nunca nem chegou a namorá-lo. Os dois foram apenas colegas de classe quando Clarice ainda estava no ensino médio, porém não eram mais havia dois anos quando ele se matou. O pior foi a carta que ele deixou a culpando. A mãe dele fez questão de entregá-la a Clarice. Depois disso, a jovem, que estava no segundo ano de faculdade, abandonou o curso. Disse que não queria mais ser vista por ninguém e que apenas daria aulas de piano para garotas em casa. Dito e feito, sua vida passou a ser nessa clausura.

Foi aí que as ligações foram diminuindo e ninguém mais tentou invadir sua casa, mas agora, três anos depois do episódio em que o vizinho se suicidou, veio este irmão mais novo dele dizer que também estava apaixonado por Clarice. Era uma tortura, ela já nem sabia mais o que fazer. Tudo que sabia era que a mãe do rapaz a odiava e que até tentou interná-lo alegando insanidade, o que não deu em nada. Perder um segundo filho… Seria terrível para aquela mulher... E, como mãe, ela ficava se perguntando o que fazer para poupar a filha de mais uma tragédia.

- Tem algo que eu possa fazer por você?

- Não, mãe. Eu estou bem como estou.

- Pois não me parece. Estou preocupada com você. Não quero que se culpa se algo de ruim vier a acontecer.

- Você acha que vai acontecer? Acha que ele vai se matar como o irmão?

- Não, é claro que não, mas, se algo assim voltar a acontecer, eu quero que saiba que a culpa não é sua.

- Eu sei. Ele não me ama de verdade, nenhum desses homens me amam de verdade.

- Sim, sim, embora você tenha muitas qualidades. Pena que eles nunca vão saber disso.

- Sim, eu não os quero.

- Eu entendo, meu anjo. Mas o que você quer, ou quem você quer, se é que quer alguém?

Clarice nunca respondia quando lhe perguntava isso, e dessa vez não foi diferente, ela olhou para o lado e flutuou em pensamentos para bem longe. Era como o pai, um homem muito bonito, mas sempre muito distante. "Eu daria tudo para ler seus pensamentos", pensou consigo mesma, e se retirou dali. A filha, no entanto, permaneceu onde estava. Seus olhos estavam agora com um brilho mágico, parecia que tinha visto um anjo, e talvez tivesse visto mesmo...

Ele estava sentado em sua cama, com seus belos olhos castanhos e seu par de asas enorme. Não era preciso que ela dissesse nada. Ele já sabia no que ela pensava, em quem ela pensava… Como era triste que alguém fosse capaz de tirar a própria vida por causa de um amor unilateral!

- Não se preocupe com ele. Ele está muito bem onde está agora.

Aquelas palavras magicamente a acalmaram, e os pensamentos dela já mudavam de percurso e se concentravam ali naquele que lhe fazia companhia… Tudo nele irradiava bondade, compaixão e amor. Foi por isso que ela havia se apaixonado por ele e era por isso que temia contar até mesmo a mãe sobre sua existência. Quem entenderia? Quem acreditaria que ela havia se enamorado de um anjo ou mesmo que ele existia? Ninguém, e ela não podia correr o risco de perdê-lo, por isso aquele era e sempre seria seu segredo.

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Talita Maciel ESCRITO POR Talita Maciel Escritora
Maceió - AL

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